terça-feira, 21 de maio de 2019

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NO GOVERNO BOLSONARO


            O presidente Bolsonaro, junto com seu ministro da Educação, Abraham Weintraub, decidiram reduzir verbas para os cursos de Filosofia e Sociologia. Diante disso, houve uma discussão atípica no Brasil sobre o valor da Filosofia e da Sociologia. Talvez no Brasil ou no mundo não houve o momento mais necessário para demonstrar a importância da Filosofia como agora. 
            Muitos, aproveitando-se do momento, até fazem chacotas ou ironias afirmando que, se houvesse uma greve de filósofos, o Brasil pararia. O que se pôde notar, e até se percebe no governo Bolsonaro é a profunda falta de conhecimento do que venha a ser a Filosofia e a sua importância. Acham, na sua ignorância, que a Filosofia é somente para estudos acadêmicos e para a docência, não servindo para mais nada.
            Como se não bastasse a ignorância com respeito à importância da Filosofia, as Ciências Humanas foram denegridas pela influência do professor de filosofia Olavo de Carvalho. Ele tem falado a seus alunos, sendo os filhos de Bolsonaro incluídos entre eles, que as universidades humanas estão cheias de analfabetos funcionais, que ele escolheu não estudar nessas universidades porque viu que ele não aprenderia nada com os professores e que as universidades de humanas não têm muita importância no Brasil, e que não há, no Brasil, nenhum filósofo ou nenhuma obra filosófica reconhecida. Para dificultar mais ainda, há os exageros de feministas e alunos que demonstram com nudez suas ideologias nos pátios das universidades de Humanas. 
            Não precisa ter uma mente muito crítica para perceber que isso é falso e perigoso. Falso em afirmar que a maioria dos estudantes é analfabeta funcional sem nenhuma pesquisa científica séria que se embase e que é totalmente inconcebível que estudantes universitários que escrevam ou defendam seus trabalhos de fim de curso sejam analfabetos. É mais fácil relacionar analfabetismo a quem nunca cursou uma universidade, ou nunca apresentou seu trabalho para ser analisado por seus pares em uma banca de avaliação. Depois, quando se generaliza que as universidades de humanas são inoperantes por causa de abusos de alguns estudantes, cai-se no mesmo erro da esquerda em atribuir à polícia erros dos que se envolvem em milícias e no crime organizado. 
Mais sério ainda é que um professor autodidata com ideologias místicas, com uma linguagem carregada de palavras de baixo calão e que nunca entrou em uma universidade seja um consultor do presidente da república na área da educação, embora que ele negue. A consequência é o que se espera: escolhas de ministros da educação sem preparo, cortes nas áreas de pesquisa das universidades, bem como a redução de verbas nos cursos de Filosofia e Sociologia. Diante desse cenário fatídico, adoradores de Olavo de Carvalho e militantes da direita tentam passar panos quentes aceitando qualquer decisão sem uma crítica devida. Não percebem, inclusive, que há uma crucial contradição quando minimizam o valor da Filosofia e, ao mesmo tempo, reconhecem Olavo de Carvalho como filósofo e ideólogo, e como aquele que ajudou eleger Bolsonaro por suas ideias.
Para falar da importância da Filosofia, precisa-se de conceituá-la primeiro. A etimologia da palavra vem de duas palavras gregas: φίλος σοφίαΦίλος é uma das palavras que significa “amor”, “amizade”; já σοφία significa sabedoria, uma inteligência aplicada. Os gregos tinham, nesse conceito, a profunda admiração pela sabedoria vinda do λόγος, pois somente o λόγος poderia manifestar a σοφία. Devido a σοφία ser manifestada, ela precisava ser admirada nos areópagos onde se questionava sobre grandes questões existenciais e científicas. Por isso, a filosofia passou a ser a razão de grandes pesquisas científicas desde o tempo de Aristóteles, pois ele foi responsável por pesquisas de observação de organismos vivos. Para ele, “o conhecimento científico consistia em intuir a forma e resumi-la numa definição concisa e lógica” (PEARCEY; THAXTON, 2005, p. 69). Nota-se, portanto, que, desde cedo, a Filosofia determinava a pesquisa científica.
            No séc. XX, o filósofo que mais influenciou a Ciência foi o austríaco Karl Popper. A sua pesquisa filosófica na área da filosofia da Ciência foi tão relevante e importante que fez Albert Einstein escrever uma carta a ele explicando sua teoria dentro do seu postulado. Einstein escreveu:

Li seu trabalho e, de modo geral (weitgehend), concordo. Só não admito a possibilidade de produzir um “exemplo superpuro” que nos permitisse prever a posição e o momento (cor) de um fóton, com precisão “inadmissível”. [...]

Não me agrada absolutamente a tendência “positivista”, ora em moda (modische), de apego ao observável. Considero trivial dizer que, no âmbito das magnitudes atômicas, são impossíveis predições com qualquer grau desejado de precisão, e penso (como o senhor, aliás) que a teoria não pode ser fabricada a partir de resultados de observação, mas há de ser inventada. (POPPER, 2007, p. 525)

            Nota-se que Einstein aceita com profunda importância as teorias de Popper, mesmo discordando de alguns detalhes pelos quais Popper tenta explicar em sua obra sobre a Lógica da Pesquisa Científica. Demonstra-se que a Filosofia de Popper estava trazendo referenciais às grandes teorias científicas para distingui-las dos dogmas e do que o próprio Popper ensinou chamando de “Psicologismo”.
            A Ciência precisa da Filosofia para defini-la e para “demarcá-la”, usando as palavras de Karl Popper. A própria Ciência não define a si mesma, pois isso é tarefa da Filosofia. Popper, em seu livro, tenta demonstrar princípios para “submeter criticamente à prova as teorias e de selecioná-las conforme os resultados obtidos” (POPPER, 2007, p. 33). Logo, Karl Popper tenta definir uma teoria como legítima para que seja científica tendo uma demarcação lógica.
            Einstein não foi o único a entender que a Filosofia é essencial a qualquer pesquisa ou teoria científica. Cientistas dos Estados Unidos e da Europa costumam ter algum título em Filosofia devido à sua importância na análise de sua demarcação nas universidades do exterior. Geralmente, eles fazem mestrado em Filosofia da Ciência ou fazem estudos filosóficos na área que pesquisam. Não é raro ver estudos em Filosofia nos currículos de professores da Universidade de Oxford, Cambridge, Harvard, Princeton e outras.
            Portanto, a Filosofia define a Ciência, como também eleva qualquer debate a uma profunda reflexão. Pela própria essência da Filosofia em ser abstrata e questionadora, jamais se poderá fechar questões ou ter ideologias dogmáticas e únicas porque sua função é pensar o método para a prática científica. Aqueles que não entendem assim jamais entenderam o que seja a Filosofia e devem ser questionados se, de fato, estão trazendo questões filosóficas ou dogmáticas. A própria religião exige um pensar filosófico para debater temas que envolvam o mundo e o ser. Por isso, quase todos os filósofos, senão, todos, pensaram em temas como Deus, sentido da vida, a morte. Isso demonstra que a Filosofia traz questões e conceitos fundamentais que a sociedade precisa debater e refletir.
            A Filosofia cumpre o papel partindo mesmo de sua etimologia. Ela ajuda a pensar e demonstrar caminhos para que sejam concretizados nas várias ciências, na Matemática e na vida em geral. Eliminar a Filosofia é deixar vago o maior atributo do ser humano, que é a reflexão e o pensar, autenticando-o como falou René Descastes: “cogito, ergo sum”.


REFERÊNCIAS

PEARCEY, Nancy R.; THAXTON, Charles B. A Alma da Ciência: fé cristã e Filosofia Natural.São Paulo: Cultura Cristã, 2005.

POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 2007.