quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O MINISTÉRIO APOSTÓLICO NOS DIAS DE HOJE




Ouve-se falar muito, nas igrejas neopentecostais, sobre a chamada “Restauração do Ministério Apostólico”. Há, inclusive, congressos somente para falar do tema convidando os intitulados Apóstolos que ministrem defendendo os seus chamados. Com o surgimento da Visão do G-12, esse tema efervesceu mais ainda por causa da consagração de apóstolos e mulheres ao ministério pastoral como ao ministério apostólico também. Isso trouxe questionamentos a algumas denominações se realmente há base nas escrituras para o chamado Ministério Apostólico. Por causa da polêmica, a Convenção Batista Nacional, devido algumas igrejas estarem na visão do G-12, criou um parecer oficial que foi passado a todas Convenções regionais. O parecer diz:

A CBN em sua eclesiologia não elegeu, nem elege nenhum modelo de gestão eclesiástica e crescimento como superior ou mais importante que outro. A multiforme graça de Deus se manifesta diversamente; Os ministérios são diferentes, e nenhum deve ser apresentado como superior ao outro: “o caminho mais excelente é o amor”...

As igrejas batistas nacionais não reconhecem o título de bispo ou de apóstolo. Não há, de acordo com estatuto e a pragmática da ORMIBAN, ordenação para tais funções que não fazem parte de nossa eclesiologia;

O objetivo desse pequeno ensaio é analisar com cuidado o que a Bíblia diz sobre esse tema, bem como de ratificar o parecer da CBN em demonstrar que se deve ter muita cautela ao tratar desse assunto. Precisa-se falar também que não se está questionando o chamado ministerial dos colegas que foram ordenados ao título de apóstolo, mas questionando se de fato poderia haver esse ministério na Igreja para que alguém seja chamado de tal.
Apostolos é derivado de apostellö – verbo grego enviar. Foi usado pela primeira vez na linguagem marítima que significa um navio de carga ou uma frota enviada. Depois o termo passou a ser usado para um comandante de uma expedição naval. Somente em duas passagens em Heródoto é que apóstolo significava um emissário como pessoa individual. Flávio Josefo emprega a palavra para um grupo enviado numa missão (Os judeus enviados para Roma – Ant. DITNT, Colin Brawn).
O primeiro a usar a palavra no NT foi o evangelista Marcos, já que ele foi o primeiro a escrever no NT. Marcos chama os discípulos de Jesus de apostoloi (Mc 6.30). Da mesma forma, todos os outros evangelistas sinóticos os chamam também (Mt 10.2; Lc 9.10; At 4.33). João, no seu Evangelho, apenas os chama de hoi dödeka / os Doze (Jo 6.67-70); porém, no Apocalipse João deixa claro que os reconhecia como ton dodeka apostolon tou arniou / dos doze apóstolos do Cordeiro (Ap 21.14). Nas cartas do Apocalipse, Jesus reconhecia que alguns se diziam apóstolos, mas não eram de fato. Ele os chamou de mentirosos (Ap 2.2). Tiago, Barnabé e Paulo foram considerados pela Igreja como apóstolos na mesma autoridade dos doze de Jesus. O que se pode notar é que não eram apenas os doze as testemunhas oculares da ressurreição de Jesus e de suas obras, pois Matias não era falado entre os apóstolos nos Evangelhos, mas foi cotado como uma testemunha ocular. É digno de nota também que foram propostos dois nomes: Matias e José, chamado Barsabás, sendo que ambos eram testemunhas, caso contrário, não seriam nem escolhidos para substituir Judas. João Marcos é considerado alguém bem próximo de Jesus, já que ele é o único a falar de um jovem que foge desnudo no Getsêmani (Mc 14.51). Ele foi chamado por Lucas de hyperetes. Uma palavra técnica usada somente para apóstolo também (comp. At 13.5; 1 Co 4.1). No caso de Barnabé, parece ser alguém bem familiar entre os apóstolos e reconhecido entre eles, pois ele foi chamado de filho da Exortação por eles e foi ele mesmo que recomendou Paulo ao círculo apostólico (At 4.36; 9.27). O próprio Lucas o reconheceu como apóstolos juntamente com Paulo (At 14.14). Paulo também tinha plena convicção que Barnabé era um apóstolo (1 Co 9.5,6). O contexto era completamente de apóstolos reconhecidos pela Igreja, pois ele fala de Cefas, os irmãos do Senhor e inclui Barnabé como fazendo parte desse círculo. Na carta aos Gálatas, Paulo novamente cita Barnabé num contexto de apóstolos com autoridade reconhecida (Gl 2.9). Portanto, fica claro que além dos doze apóstolos, havia um grupo que a Igreja reconhecia como apostoloi tou Christou e se findou em Paulo. Ele afirma isso quando diz que era um nascido fora do tempo (1 Co 15.8). O sentido é que Paulo estaria mostrando que Deus já tinha fechado o círculo de apóstolos autorizados na Comunidade dos Cristãos e que ele era o último que Deus permitiu.

A palavra apostolos sendo usada no sentido geral
Apesar de que a palavra apostolos tenha tido um sentido técnico de enviado com autoridade de Cristo e sua designação limitada a somente alguns poucos da Igreja de Cristo, essa palavra foi usada no NT para enviado, servo como em Fp 2.25 que Paulo chama Epafrodito de apostolos. Os tradutores entenderam muito bem que o sentido era de um mensageiro, um enviado apenas, não um título ou um dom. João também coloca essa palavra nos discursos de Jesus quando escreve em Jo 13.16: nem o enviado maior que aquele que o enviou. Deixa claro que essa palavra ainda era usada na sua forma mais simples como alguém que era enviado para algum serviço ou um mensageiro de confiança. Jesus, nesse texto, confirma que todos nós podemos ser um enviado / apostolos, deixando óbvio que não é a mesma designação de Efésios e Coríntios, pois ele concedeu somente a alguns.
Os apóstolos que são ordenados hoje em dia exigem autoridade acima dos pastores, geralmente são de igrejas grandes e poderosas ou líderes de megas ministérios. Há uma hierarquia: Os apóstolos ficam acima dos Bispos e esses acima dos pastores. Há aqueles que precisavam ter um título acima dos apóstolos. Como não havia na Bíblia, criaram a seu bel prazer o nome de “Paipóstolo”. Esse tipo de comportamento já desqualifica o que significava a palavra em si, mostrando que jamais foi isso que Paulo queria para a Igreja de Cristo.

Os Pais da Igreja

É algo impressionante que nenhum pai da igreja é chamado de apóstolo. Todos os seus escritos citam os apóstolos conhecidos pelas escrituras, mas jamais eles se autodenominam “Apóstolos”. Muitos são chamados de bispos, mas não se tem conhecimento que algum pai da Igreja fosse chamado de apóstolo. Se nenhum Pai da Igreja foi chamado de apóstolo é muito estranho que hoje em dia se veja apóstolo por todos os lados e até correndo risco de ser preso por mau uso de dinheiro.

A Interpretação de Efésios 4.11

Tem-se que admitir que esse texto não é tão fácil de interpretação. Por isso a razão de tanta polêmica. Ao que parece os ministérios eram claros na Igreja local e que não se precisava explicar detalhes. Porém, precisa-se fazer uso da Hermenêutica e da Exegese para que se possa perceber a intenção de Paulo. Uma regra de Hermenêutica clara de interpretação é atentar primeiramente para o contexto imediato do parágrafo e do livro. Depois, pode-se pensar em outras coisas. A Comunidade Cristã era ensinada que os apóstolos eram um número limitado, pois por isso que Paulo sempre começava suas epístolas com a famosa frase apostolos tou Iesou Christou / apóstolo de Jesus Cristo (Ef 1.1). Quando Paulo fala em apóstolos e profetas, precisa-se analisar que é na mesma designação dos textos do mesmo livro Ef 2.20 e 3.5. Paulo explica que a Igreja estava sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo Cristo a Pedra Angular. A Igreja estava consciente que não havia mais apóstolos com autoridade dos doze além daqueles poucos que Deus escolheu. Partindo disso que se pode analisar Ef 4.11. Não é porque Paulo incluiu os apóstolos e profetas entre evangelistas, pastores e mestres que obrigatoriamente Paulo esteja dizendo que tenha que ter apóstolos e profetas na igreja local, pois Paulo estava escrevendo de uma forma abrangente que Jesus concedeu dons aos homens (Ef 4.8) (o profeta que se fala aqui é aquele que tinha a autoridade de falar a Palavra de Deus inspirada). Isso implica dizer que essa abrangência incluiria até os apóstolos e profetas de número limitado. O que se entende é que Paulo deu a primazia aos fundamentos das Escrituras em primeiro lugar. Seria como se Paulo dissesse: Deus escolheu em primeiro lugar a sua Palavra falada pelos apóstolos e profetas, depois os evangelistas, pastores e mestres. A mesma coisa pode-se pensar quando Paulo fala em 1 Co 12.28. Notem que Paulo estava falando de dons que se manifestam sobrenaturalmente e não tinha tocado em apóstolos, mas agora diz que na Igreja deveria ter em primeiro lugar apóstolos e segundo profetas. Claro que esses profetas estão dentro do contexto de Ef 2.20; 3.5, pois Paulo iria falar de profetas que tinham o dom de profecia e que seriam julgados pelos demais profetas; mas esses seriam aqueles que tinham autoridade de falar a Palavra de Deus como em 2 Co 12.11,12; Ef 2.20. O que Paulo estava falando aos coríntios era a mesma coisa que falou aos Efésios: eles deveriam atentar para os fundamentos dos apóstolos e profetas em primeiro lugar, depois, os demais dons.
Portanto, é muito duvidoso que se tenham apóstolos na igreja local simplesmente porque são citados juntamente com outros dons. O que se precisa analisar é que no contexto do Novo Testamento ninguém poderiam ser apóstolo além daqueles que foram designados por Deus, pois eles eram os únicos que tinham autoridade de falar a Palavra de Deus com fidelidade.

Conclusão

Conclui-se que as igrejas que não aderiram à ordenação de apóstolos são mais prudentes, mais bíblicas e mais capacitadas. Mesmo que haja divergências quanto ao uso do dom de apóstolo, mas diante das evidências contrárias e dos exageros, devem-se ter os olhos bem atentos a igrejas que trazem a “Restauração do Ministério Apostólico”. Gostaria de trazer esse alerta, não questionando o chamado ao ministério, diga-se de passagem, mas questionando apenas o dom de apóstolo e valorizando o Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas como única regra de fé e prática.