sábado, 24 de novembro de 2012

RESPOSTA A GUSTAVO IOSCHPE NO SEU ARTIGO: “QUEM SÃO OS PROFESSORES BRASILEIROS?”




Falar da Educação mexe com toda a estrutura da sociedade em suas mais vastas dimensões, já que ela é monolítica. Tratando-se de professores, muito mais, pois todos, um dia na vida, já passaram pelas mãos de um ou alguém se fez de um. A própria palavra “professor” vem do latim que quer dizer “aquele que ensina, cultiva uma arte ou dedica-se em algo”, como a palavra usada na Grécia διδάσκαλος / didaskalos que quer dizer aquele que ensina, ou que é um mestre. De uma certa forma, as palavras vieram da informalidade, passando, depois, para a formalidade, pois todos precisam passar por um educador ou professor, nem que seja na informalidade.

O texto do economista Gustavo Ioschpe da revista Veja (21/abr/2012) é muito bom para análises econômicas, mas muito deficiente no que diz respeito ao que ele se propõe a comentar – educação e quem realmente é o professor brasileiro. Ele começa seu texto de uma forma bem otimista, pois ele questiona o que chamou de “versão propalada aos quatro ventos”. Ele coloca pesquisas que demonstram que os professores não escolheram a profissão como uma “caída de paraquedas na carreira”, mas que a maioria escolheu por amor à profissão. Demonstra que os dados levam que os professores são mais idealistas e não são derrotados; coloca dados que a maioria dos professores está satisfeito com a profissão quando entrevistados que no início de sua carreira e afirma, também, que somente 10% querem abandonar a carreira.

Não obstante tudo isso, Gustavo Ioschpe coloca toda a responsabilidade do problema educacional no que diz respeito ao ensino-aprendizagem nas costas do professor. Ele afirma: “Essa satisfação é curiosa, porque os professores estão falhando na sua tarefa mais simples, que é transmitir conhecimentos e desenvolver as capacidades cognitivas de seus alunos”. Para isso, ele aponta pesquisas entre os próprios professores. Ele escreveu: “Só 32% deles concordariam em dizer ‘meus alunos aprendem de fato’. Dois terços dos professores admitem que só conseguem desenvolver entre 40% e 80% do conteúdo previsto no ano. Só um terço coloca esse patamar acima de 80%”.

Partindo ainda da sua lógica econômica, ele chega a uma conclusão que o “problema do sistema educacional” é o professor. Ele afirma que o professor sai da universidade, passa em um concurso e “fracassa”, pois seus alunos não aprendem. Ao invés desse professor voltar a estudar, ele continua e isso por que não existe “sanção” ao “professor ineficaz”. No restante do texto, Gustavo tenta mostrar o grande dilema do professor em saber que ele é bom e que os seus alunos não estão aprendendo. Ele termina selando suas críticas afirmando que “os professores criaram uma leitura de mundo à parte e completa para se blindarem contra o próprio insucesso”. Ele afirma, pois, que “na área da saúde, seria ridículo dizer que um pesquisador de laboratório não pode criar um remédio porque nunca atendeu pacientes com aquela doença ou que um medico só poderia realmente tratar do doente se tivesse passado um tempo considerável internado no hospital. E afirma, para a minha surpresa, que para ele é “iniciativas disparatadas melhorar a educação dobrando os salários dos profissionais da área. A maioria dos professores não está com a dignidade abalada”.

Precisamos, primeiramente, entender a tamanha falta de sensibilidade para com a profissão do professor do economista Gustavo Ioschpe. Ele não é professor e, segundo consta no seu currículo, não existe nenhuma especialidade na área da educação, exceto de participação de órgãos não governamentais (Veja na Wikipédia), pois, para minha surpresa, não consta seu nome no currículo na plataforma Lattes.

Realmente Gustavo tem que se defender da blindagem e, nesse caso, a blindagem vem dele, pois ele mesmo sabe que está entrando em um terreno que não tem especialização, nem vivência. Ele não percebe que a lógica do pesquisador de laboratório tem uma falácia, pois este não está tratando de pessoas, mas de coisas e fórmulas químicas, que criam remédios. No entanto, eles não podem medicar com os remédios que eles fabricam porque eles NÃO são médicos. Da mesma forma, o médico não precisa passar pelas mesmas coisas que o doente, mas ele precisa estudar em hospitais e residências específicas para chegar a diagnósticos precisos. Isso é totalmente diferente de um economista que se baseia apenas em dados de pesquisa para ter a coragem de afirmar que “os professores criaram uma leitura de mundo à parte e completa para se blindarem contra o próprio insucesso”.

Temos que pensar que os dados precisam ser interpretados e eles podem ser usados de uma forma falaciosa também. Por exemplo: o autor afirma que é falsa que as condições objetivas da carreira de professor não são satisfatórias e que a “ideia que o professor precisa correr de um lado para o outro, acumulando escolas e horas ‘insanas’ não resiste à apuração dos fatos”. Ele, então, dá os “fatos” dizendo que 57% trabalham somente em uma escola; só 6% do total em 3 ou 4 escolas; 28% lecionam 40 horas e só um quarto tem jornada acima de 40 horas por semana.

No entanto, não se sabe em quais escolas foram feitas essas pesquisas e nem em qual lugar do Brasil, pois a pessoa mais simples da Nação saberia que esses dados não condizem com a realidade brasileira e, principalmente, quando nos referimos ao Nordeste ou aos lugares mais pobres da Nação. Mesmo assim, o que não se percebe é que Gustavo, ao dizer que 57% trabalham em um só escola, não toca nos 43% que negaram. E, se ele acha esse número satisfatório para defender a satisfação objetiva da carreira do professor, é mais uma razão para ele ser um bom economista, mas, só isso.

A outra falácia é quando ele traz uma pesquisa para afirmar que o problema de aprendizagem está no professor. Ele afirma: “só 32% deles concordariam em dizer ‘meus alunos aprendem de fato’”. Isso é uma falácia porque a pergunta foi feita se os alunos aprendem de fato. No entanto, existem várias razões ou causas que levariam um estudante a ser deficiente na aprendizagem. Começando pela sua família desestruturada, uma má alimentação, falta de estrutura, como sala de aula inadequada, livros didáticos, e outras coisas. Ou seja, os professores poderiam ter dito até 1% e mesmo assim a causa não estar nos próprios professores. A aprendizagem inclui vários fatores para acontecer e não somente a prática de ensino. Por isso, Vygotsky afirma que a história da sociedade e o desenvolvimento do homem estão totalmente ligados, de forma que não seria possível separá-los. Ele ainda afirma que a aprendizagem sempre inclui relações entre pessoas. [1]. Da mesma forma, para Jean Peaget, a aprendizagem acontece na medida em que participamos ativamente dos acontecimentos, assimilamos mentalmente as informações sobre o ambiente físico e social e transformamos o conhecimento adquirido em formas de agir sobre o meio. Desta maneira, a aprendizagem, para esses teóricos, não começa na sala de aula, mas muito antes. Portanto, alguém que coloca toda a responsabilidade nas costas de um professor, ainda não sabe o que é apredizagem nem o que é educação.

Na realidade, existem professores ganhando muito mal e sempre na espera que seus salários estejam no dia, pois o atraso é uma realidade para muitos professores do Brasil e principalmente do Nordeste. Existem professores que suportam alunos indisciplinados que apontam dedos, xingam, ameaçam e somente podem pedir por favor. Existem professores que precisam trabalhar em outras áreas porque o seu salário não é o bastante, ficando somente a madrugada para preparar aulas. Logo, como o autor tem a coragem de afirmar que “as iniciativas são disparatadas em melhorar a educação dobrando os salários dos profissionais da área”? E que “a maioria dos professores não está com a dignidade abalada”? O autor demonstra desconhecimento da realidade e prática da educação brasileira.

O economista Gustavo Ioschpe curiosamente não toca que o professor é a única profissão que ele não somente trabalha no seu lugar de trabalho. Ele leva provas, trabalhos e artigos para casa para correção, usa seus fins de semana para preparar suas aulas e passa horas na internet para reservar filmes e slides aos seus alunos quando têm essas ferramentas. Gustavo Ioschpe não fala também que muitas professoras são mães de famílias que deixam seus filhos ainda bebês em casa para cuidar dos filhos dos outros e mesmo assim não são reconhecidas como deveriam.

Portanto, gostaria de responder ao nobre economista que seria melhor fazer seus comentários nas páginas de economia, pois educação ficou muito a desejar porque  uma nação que não reconhece seus professores não pode crescer.

[1] TAILLE, Yves de L., OLIVEIRA, M. K., DANTAS, H., Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. Pág. 23-36, São Paulo, ed. Summus, 1992

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

AS DIFERENÇAS DOS VERBOS GREGOS NO DIÁLOGO DE JESUS E PEDRO EM JOÃO 21.15-17





No mundo da Erudição e dos estudiosos da Bíblia paira uma mania e um perigo: quando um livro é escrito ou um escritor traz uma tese, geralmente os outros eruditos seguem sem questionar, sem falar nos estudantes de teologias e seminaristas. Um exemplo disso é a exegese truncada e defeituosa de Jo 21.15-17 dizendo que não há diferença de significado entre os verbos ἀγαπάω agapao e φιλέω phileo. Apesar de respeitar as interpretações de alguns autores, inclusive da Editora Vida Nova, bem como Luiz Sayão que fez um breve apanhado dessa exegese na revista Enfoque, tem-se que afirmar que a negação das diferenças de significado desses dois verbos consiste em lapsos de exegese, bem como erros sutis de hermenêutica.

Toda língua tem palavras com suas denotações e conotações diversas. Apesar de que no português o verbo amar não tem vários significantes, mesmo tendo vários significados, nas outras línguas, não é assim. Para os gregos eles tinham, pelo menos quatro significantes para o que traduzimos para amar: ἀγαπάω agapao, φιλέω phileo, ἐράω erao e στέργω stergo. Para os gregos o uso dessas palavras tinham acepções especiais e distintas, dentro do significado semântico da época. Por exemplo: o verbo φιλέω queria dizer ter afeição, incluindo sentimentos. Segundo o Dr. W. Gunther no Dicionário Internacional de Teologia do N.T. ele afirma que "as idéias que se vinculam com φιλέω phileo não têm ênfase claramente religiosa". Para os gregos o verbo φιλέω phileo leva um significado de um gostar mais subjetivo, instável, amigável. Para o verbo ἀγαπάω agapao, a literatura secular grega denota como tratar com respeito, dar boas vindas, estar contente com. Todas essas acepções demonstram objetividade e prática. Há ocasiões que o significado é alguém favorecido por um deus (cf. Dio. Cris., Orationes 33, 21, citado pelo DITNT, Editora Vida Nova Vol. 1). Há ocorrência do substantivo ἀγάπη como título à deusa Ísis (P. Oxy. 1380, 190; século II d.C.). O que se pode notar claramente pelas acepções do grego secular é que os significados eram claramente distintos em suas essências. Um demonstrava significado mais subjetivo, de amizade; o outro, mais prático e relacionado a deuses. Se os escritores que escreveram o NT usavam a língua grega, tem-se que esperar que eles atentavam para as diferenças de significados, pois, caso contrário, eles entrariam numa confusão semântica.

F. F. Bruce, defendendo as palavras como sinônimas no seu comentário de Jo 21.15-17, demonstra que em Gn 37.3 na LXX é usado o verbo ἀγαπάω agapao, mas no verso posterior v.4 é usado φιλέω phileo. Com isso ele chega a uma conclusão que o texto de João 21 as palavras são sinônimas também. No mesmo parágrafo do comentário, ele escreve: "o verbo ἀγαπάω agapao em si não denota necessariamente um amor mais sublime; isto só ocorre quando o contexto o deixa evidente" (BRUCE, F. F. João, Introdução e Comentário, Vida Nova pág. 345). Seguindo o conselho do Mestre F. F. Bruce é que se discorda dele mesmo, porque o contexto e a análise exegética demonstram que em João 21.15-17 os verbos têm significados diferentes. Essa alusão de Gn 37.3,4 não é decisiva para se dizer que em João 21.15-17 os verbos ἀγαπάω e φιλέω têm significados semelhantes. Primeiro que os rabinos eruditos que escreveram a LXX poderiam ter interpretado o verbo ´aheb no verso 4 como uma afeição além do significado do verso anterior, pois isso era normal da tradução rabínica da LXX. Segundo, mesmo que tenha o mesmo significado, não desfaz o contexto exegético de João 21.15-17. Na linguagem, embora que possa até haver um significado pelo outro, deve-se ter todo o cuidado e não pensar que todas as vezes que algumas palavras diferentes vierem num mesmo texto são sinônimas. Apesar de que para a nossa língua uma palavra possa parecer sinônima, o público alvo primitivo da língua original via claramente a diferença. Por exemplo, temos as advertências de Paulo aos Gálatas 5.19, 20 onde ele escreve μοιχεία (moicheia), πορνεία (porneia), ἀκαρθαρσία (akartharsia), ασελγεἰα (aselgeia) e que todas essas palavras nos idiomas ocidentais quase têm o mesmo significado. Não obstante haver palavras que os evangelistas usaram uma pela outra como o verbo μοιχέω (moicheo) derivado do substantivo μοιχεία (moicheia) em Mt 5.28, em Gálatas ele coloca como distinto, pois o que para nós quase não tem diferenças, para o público grego havia distinções consideráveis. No outro verso de Gálatas Paulo dá mais um exemplo: θυμοί (thumoi), ἐριθεία (eritheiai), διχοστασία (dichostasia), αἱρέσις (hairesis). Na língua portuguesa essas palavras quase não têm diferenças em significado, pois todas elas dizem respeito a contendas e divisões. Porém, o que para nós o significado não tem quase diferença, para o público alvo havia uma considerável distinção de significado. Portanto, deve-se ter muito cuidado ao dizer que duas palavras têm a mesma denotação num texto, exceto se o contexto e a gramática confirmarem claramente, que não é o caso de João 21.15-17.

Um dos argumentos, até infantil, usado é que Jesus falou em aramaico e no aramaico não há diferenças nos verbos. Embora que não se possa provar essa declaração, pois não se saberia quais as palavras que Jesus e Pedro usaram especificamente no diálogo em aramaico, o texto inspirado é o texto que João escreveu na língua grega. Não obstante que Jesus tenha falado em aramaico com Pedro, é irrelevante saber quais as palavras em aramaico, porque o inspirado foi o texto final escrito em grego koinê e nesse há diferenças muito óbvias.

Quem mais explorou o verbo agapao ἀγαπάω foi o evangelista João. Ele demonstra que esse amor é uma prática sacrificial completamente objetiva em prol de alguém (Jo 3.16; 15.12,13; 1 Jo 4.10). João sabia que os dois grandes mandamentos falados por Jesus eram com esses verbos na LXX (Mc 12.29-31), mostrando com isso a supremacia em relação a phileo φιλέω. Quando João cita φιλέω phileo separadamente como em 5.20 do amor do Pai para com o Filho; 16.27 do amor do Pai para com o homem, não implica dizer que todas as vezes que esse verbo vier seja sinônimo de apapao ἀγαπάω. Inclusive pode-se pensar também que João queira mostrar uma afeição da parte do Pai para com o Filho e para com aqueles que os seguem, já que Deus é um ser pessoal. É difícil pensar que João, tendo demonstrado o amor de Deus sacrificial e gracioso em ἀγαπάω agapao, agora queira colocar uma palavra que demonstre um amor humano, instável e afetivo no lugar do que ele mesmo escreveu. Se isso foi um estilo de João, por que ele não usou φιλέω phileo por ἀγαπάω agapao nas suas epístolas? Todo escritor usa uma forma estilística com o objetivo de embelezar sua obra. Se esse foi o caso, por que João não usou nas epístolas onde mais falou de amor? Outro fator importante: usar o verbo φιλέω phileo separadamente é diferente de usá-lo como sinônimo de ἀγαπάω agapao no mesmo contexto. Dessa forma nenhum escritor usou no NT, exceto João. Será que todos os outros escritores eram tão incultos que somente João usou esse estilo para essas duas palavras e esse somente no diálogo de Jesus e Pedro?

Apesar de Paulo ter usado φιλέω phileo também em 1 Co 16.22, então, por que Paulo não usou φιλέω phileo por ἀγαπάω agapao em 1 Co 13 e em outras passagens no mesmo contexto? será que Paulo não tinha esse estilo para ἀγαπάω agapao e φιλέω phileo? Deve-se lembrar que o verbo usado separadamente não é a mesma coisa que usá-lo num mesmo contexto. Portanto, esses poucos versos que φιλέω phileo é usado no Evangelho de João não são decisivos para desfazer as diferenças de significado na interpretação de Jo 21.15-17. O Dr. William Hendriksen, um dos mais respeitados exegetas reformados do NT, admite as diferenças desses verbos. Ele afirma que as diferenças deles estão entre devoção e apenas emoções. Hendriksen, comentando o verso 16 diz: "Pedro dá a mesma resposta de antes. Ele ainda não ousa afirmar que possui o amor de teor mais elevado" (Comentário do NT, pág. 927, Cultura Cristã). Realmente quando se analisa o texto de uma forma mais profunda, não se tem alternativa, se não, dar aos verbos significados diferentes.

ANÁLISE TEXTUAL

João 21:15  Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? 


Σιμων Ιωνα, αγαπᾳς με πλειον τουτων

Simão conhecia muito bem o que Jesus ensinou sobre amor. Um amor de alguém dar a vida por outra pessoa e um amor de orar pelos inimigos (Jo 15.13; Mt 5.44). Os apóstolos traduziram por ἀγαπάω agapao esse amor. Portanto, Pedro sabia muito bem o que Jesus perguntava. Na construção grega Jesus amplia o significado do verbo ἀγαπάω agapao, pois a locução comparativa é composta de um adjetivo neutro πολυ polu na forma comparativa formando uma expressão adverbial, pois modifica o verbo ἀγαπάω agapao. A pergunta de Jesus é se Simão o ama mais que aqueles que estavam ali, logo Jesus identifica a qualidade do amor que pergunta, pois a frase é adverbial modificando o verbo ἀγαπάω agapao. Portanto, πλειον τουτων pleion touton justifica o uso de ἀγαπάω agapao, pois é um amor superior. Pedro sabia sobre o "amarás ao Senhor teu Deus de todo coração" e Jesus evoca um amor superior que não poderia ser como a resposta de Pedro. O Dr. Werner de Boor, em seu comentário do Evangelho de João, afirma: “Ao perguntar, Jesus usou o termo pleno e vigoroso para amor que tem força suficiente para expressar também o amor de Deus.  Pedro não ousa aplicar essa palavra ἀγάπη agape para sua posição perante Jesus" (Comentário Esperança, pág. 209, Editora Esperança). Assim, Jesus repete mais uma vez  se Pedro o ama com o verbo ἀγαπάω agapao. Pedro responde com um sim categórico, mas  com um conceito diferente do que Jesus lhe perguntou. Pode ser que Pedro, quando disse: “tu sabes”, queira se referir ao episodio da negação de Cristo; mostrando com isso que Jesus era testemunha que seu amor era apenas como uma amizade, não como o mandamento dito pelo seu Mestre.

João 21:17  17 Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas?

 λεγει αυτῳ το τριτον, Σιμων Ιωνα, φιλεις με? ελυπηθη ὁ Πετρος ὁτι ειπεν αυτῳ το τριτον: φιλεις με?

João declara que Jesus pergunta a Pedro pela terceira vez, e dessa vez usa o verbo φιλέω phileo. Caso se diga que os significados são sinônimos, estar-se-ia colocando Jesus num dialogo redundante e sem sentido. Por que Jesus perguntaria três vezes a Pedro a mesma coisa? Se alguém argumenta que seria uma forma de Jesus demonstrar a Pedro que ele não o amava necessariamente, apesar de ser um estilo não inteligente, esse argumento aumenta as evidências das diferenças de significado dos verbos, pois Pedro responde três vezes que o ama, só que φιλέω phileo e pela tristeza Pedro não tinha a intenção de responder com satisfação.

O argumento mais forte e decisivo é exatamente o comentário do próprio evangelista João ao afirmar que Jesus pergunta pela terceira vez. João declara que Pedro ficou triste e afirmou o motivo: “Porque Ele lhe disse: Amas-me?”. O próprio autor do livro repete novamente o verbo na expressão que Jesus falou: φιλεις με? “phileis me?”. O autor demonstra que a razão da tristeza de Pedro foi exatamente a expressão que Jesus falou, pois João a repete. Fica óbvio que Jesus estava levando Pedro a refletir sobre o amor objetivo de entrega e de devoção em contraste com uma simples afeição e amizade como traduz o Dr. Hendriksen. Portanto, Pedro se entristeceu porque Jesus não perguntou com o mesmo verbo das duas perguntas, αγαπᾳς με agapas me? Agora, Jesus pergunta com o mesmo verbo que Pedro lhe respondia φιλεις με phileis me?

Alguns argumentam que por existirem algumas outras palavras sinônimas no texto como βοσκω bosko e ποιμανω poimano; αρνιον arnion e προβατον probaton; οιδα oida e γινωσκω ginosko, dizem que é um sinal que ἀγαπάω agapao e φιλέω phileo querem dizer a mesma coisa. Segundo o Dr. Hendriksen, o motivo de Jesus falar cordeiros e ovelhas demonstra uma generalização da sua igreja, que inclui cuidado com todas as faixas etárias. Embora que pareça a mesma coisa, para os ouvintes era importante ter essas diferenças, como também os verbos βοσκω bosko – alimentar e ποιμανω poimaino – pastorear podem demonstrar um ministério completo de pastorear incluindo o cuidado de suprir e alimentar. As diferenças dos verbos οιδα oida e γινωσκω ginosko demonstram diferenças semânticas no próprio NT, pois οιδα oida significa um conhecimento mais abrangente (Mt 15.12; Jo 13.7; 16.30), γινωσκω ginosko, mais prático (Lc 10.22; Jo 7.27). Se fosse apenas um estilo, João teria colocado na segunda resposta de Pedro γινωσκω ginosko, mas não foi o caso. Portanto, Pedro poderia estar afirmando que Jesus tanto sabia οιδα (oida) todas as coisas como também sabia na prática γινωσκω (ginosko) por causa da sua negação. Pedro não ousou declarar que o amava no amor mais completo e perfeito de entrega, mas apenas em afeto. Pedro sempre leva a triste lembrança da sua negação e que Jesus o cura levando a enfrentar uma realidade: Embora que Pedro tenha sido falho no amor para com o seu Mestre, ele o ama com um amor eterno. Portanto, esses aparentes sinônimos não desfazem as diferenças de significado.

Realmente tem-se que admitir que a negação das diferenças de significado dos dois verbos empobrece a cena e leva até ter uma noção de um Jesus com um diálogo não inteligente, repetitivo, pois Pedro termina suas respostas sempre dizendo que ele sabia todas as coisas. Dizer que Pedro estava dizendo que amava a Jesus com um amor Pleno é classificar Pedro como arrogante e ainda não tratado.
Sente-se pelos exegetas que vão pelo caminho de uma exegese que elimina a beleza de um texto e que obscurece a beleza da língua grega e da mensagem que Deus queria realmente falar aos povos de todas as nações, deixando de ouvir os gritos do próprio texto que realmente havia uma intenção diferente para os verbos gregos.

IN DEFENSE OF CELIBACY OF CHRIST: AN ANALYSIS OF FRAGMENT FOUND SUGGESTING THAT JESUS ​​WAS MARRIED





A new debate on celibacy of Jesus Christ was opened after the book best seller by Dan Brown called "Da Vinci Code." This time, the debate was who brought the researcher Karen King, a professor at Harvard Divinity School, Cambridge (Massachusetts). She revealed the discovery of a fragment in Coptic language (ancient Egyptian language) the size of a credit card that reveals the following sentence: "Jesus said to them: my wife ...". In his lecture in Rome, she admits she would not be a proof that Jesus was married. However, it shows that it was a discussion among Christians of the second century on this topic.

We need know that old documents are not synonymous with authentic, as heresies and heretics are also old. The reason is that in the first century there were many heretics and their writings were also passed at that time. Until scribes who were responsible for making copies of the Scriptures tried to corrupt them. Pickering cites in his book The identity of the New Testament Text a quote from Metzger:

Metzger says: Irenaeus, Clement of Alexandria, Tertullian, Eusebius, and many other Church Fathers heretics accused of having tampered with the Scriptures in order to provide support for their particular viewpoints. In the middle of the second century, Marcion eliminated their copies of the Gospel according to Luke, all references to the Jewish background of Jesus. A Harmony of the Gospels Tatian contains several textual changes that gave support to the view or ascetic sect encratita.[1]

At that time, several documents were rejected by the Christian church for not bringing the apostolic signature, nor be consistent with the scope of the rest of Scripture. Because of this, several documents were written on behalf of the apostles, being called "Pseudoepígrafos." Even so, the church, in the early second century, had already closed the canon, although it was not officially organized. Because of this, every document that was not the Scriptures, already recognized by the Church, was rejected.

Besides, according to Dr. Pickering, "from 50 AD now has many Jesus'es, and many Marias. '" Therefore, as evidence that this text refers exactly to Jesus Christ and not the other? Anyway, even if it was, could not undo the testimony of thousands of manuscripts, writers, historians in various places without even mention Jesus as married.

The main focus of heresies that tried to undermine Christianity was in Egypt. William Burgon says:

Rather, the early Christians of Alexandria were probably heavily influenced by the heretics who grew up there and that are known to have corrupted the New Testament text, by Basilides, for example, and Valentinus and his disciples.[2]

So not only had old documents that were ignored and considered apocryphal and heretical, as there were those who tried to omit portions of Scripture or make a canon to support their own heresies as in the case of Marcion. Therefore, a single snippet that says the opposite of other scriptures should not bring any bother to anyone.

Against this is still the testimony of several writers and historians of the early second century would never have referred to Jesus as married or having a wife. Among them are: Papias, Justin, Irenaeus, Hippolytus, Eusebius, Chrysostom and Jerome. All they quoted Scripture and confirmed from the years 100 to confirm its authenticity which, by omission and inference that Jesus was never married.

Another difficulty against Coptic fragment is that since the fourth century versions of the New Testament had circulated in Egypt by name or Menphitic Dialectic of Lower Egypt. If there was any doubt about the celibacy of Christ, the Gospel would not be so accepted in Egypt, and even to translating the vernacular of the region. So if these are translations of Greek copies, then had the release of the Gospels long. The own version, from the original Greek for the Egyptian language of the time demonstrates its authenticity and worthy of acceptance by the Egyptian church.

EVIDENCE OF THEOLOGICAL CELIBACY DE JESUS

The internal evidence about the celibacy of Jesus Christ is only by inference theological and the total omission of the stories of the apostles and prophets. In fact, Jesus would come as "the Lamb of God who takes away the sin of the world" (Jn 1:29, 36). He would come with one purpose: to be the redeemer and the means of salvation for His elect, the Church. Isaiah's description leaves no room for marriage or having a family, since the description of a lamb is suffering:

Isaiah 53:2-4 2 He grew up before him like a tender shoot, and like a root out of dry ground no form nor comeliness; watched him, there is no beauty that we should desire him. 3 He was despised and rejected by men, a man of sorrows and acquainted with grief: and as one from whom men hide their faces he was despised, and we esteemed him not. 4 Surely he has borne our infirmities and carried our sorrows about yourself, and we did esteem him stricken, smitten of God and afflicted.

Although the text does not explicitly celibacy of Jesus shows that he, like lamb and silent sufferer, have a mission of suffering and dedication to redeem himself, since he would be the most rejected of humans and without any appearance.

However, it is noteworthy that marriage is not an obstacle to faith, as some thought monks. However, the purpose of Christ was specific as redeemer of his church, and his bride herself.

The apostles identified that the Church was the very Bride of Christ. This showed that it came with one purpose: to rescue a bride who is not the child of man, but his church whom he called "Bride of the Lamb."

Paul wrote:

Ephesians 5:25-27 25 Husbands, love your wives, even as Christ also loved the church and gave himself up for her 26 to make her holy, having cleansed her by the washing with water through the word, 27 and to present to himself a glorious church, not having spot, or wrinkle, or any such thing, but holy and without blemish.

In this text, Paul uses the image of a bride to teach that Christ came to love his church is his bride, demonstrating his main purpose in coming into the world - redeem it. Paul infers through this text that the marital relationship of vacuum was filled by Christ in his mission to redeem his church.

In several passages that John was an eyewitness reports that the church is the bride of Christ:

John 3:28-29 28 You yourselves are witnesses that I said to you I am not the Christ, but I was sent as his forerunner. 29 He that hath the bride is the bridegroom; friend of the bridegroom, who stands and hears him, rejoices greatly because of the bridegroom's voice. For this joy is fulfilled in me.

Revelation 21:2 2 And I saw the holy city, new Jerusalem, coming down out of heaven from God, adorned as a bride adorned for her husband.

Revelation 21:9 9 Then came one of the seven angels which had the seven vials full of the seven last plagues, and talked with me, saying, Come, I will show thee the bride, the Lamb's wife;

Revelation 22:17 7 The Spirit and the bride say, Come! He that heareth say, Come! Let him who thirsts come, and whoever wishes to receive for free the water of life.

So perhaps still can find other fragments heretics, but will be difficult to breach the barrier and historical testimony of the apostles and prophets manuscripts scattered in museums around the world. The testimony of the manuscripts is very important since been found in several different places, demonstrating that the authority of the autographs in Greek was a reality and its acceptability as truth is incontrovertible.

[1] PICKERING, Wilbur N. The identity of the New Testament Text. Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980, p. 41
[2] Burgon, John William. The last twelve verses of the Gospel According to S. Mark. Ann Arbor: The Sovereign Grace Book Club, 1959, p. 25-26

EM DEFESA DO CELIBATO DE CRISTO: UMA ANÁLISE DO FRAGMENTO ACHADO SUGERINDO QUE JESUS ERA CASADO






Um novo debate sobre o celibato de Jesus Cristo foi aberto depois do livro Best seller de Dan Brown chamado “O Código da Vince”. Dessa vez, quem trouxe o debate foi a pesquisadora Karen King, professora da Escola de Divindade de Harvard, de Cambridge (Massachusetts). Ela revelou a descoberta de um fragmento em linguagem copta (antiga língua egípcia) do tamanho de um cartão de crédito que revela a seguinte frase: “Jesus disse a eles: minha esposa...”. Em sua conferência proferida em Roma, ela admite que não seria uma prova que Jesus era casado. No entanto, ela demonstra que já era uma discussão entre os cristãos do segundo século sobre esse tema.

Precisamos saber que documentos antigos não são sinônimos de autênticos, pois as heresias e os hereges também são bem antigos. A razão disso é que no primeiro século havia muitos hereges e seus escritos eram passados também naquela época. Até copistas que eram responsáveis por fazer cópias das Escrituras tentaram corrompê-las. Pickering cita em seu livro The identity of the New Testament Text uma citação de Metzger:

Metzger afirma: Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Eusébio, e muitos outros Pais da Igreja acusaram os hereges de terem adulterado as Escrituras com a finalidade de prover apoio para seus pontos de vista particulares. Na metade do segundo século, Marcião eliminou das suas cópias do Evangelho segundo Lucas todas as referências feitas à formação judaica de Jesus. A Harmonia dos Evangelhos de Taciano contém várias alterações textuais que deram apoio ao ponto de vista ascético ou da seita encratita.[1] 


 Nessa época, vários documentos eram rejeitados pela igreja cristã por não trazerem a assinatura apostólica e nem serem coerentes com o escopo do restante das Escrituras. Por causa disso, vários documentos foram escritos em nome de apóstolos, sendo chamados de “Pseudoepígrafos”. Mesmo assim, a igreja, no começo do segundo século, já tinha o cânon fechado, embora que não tinha sido oficialmente organizado. Por causa disso, todo documento que não fosse as Escrituras, já reconhecida pela Igreja, era rejeitado.


Alem do mais, segundo o Dr. Pickering, “a partir de 50 d.C. passou a ter muitos Jesus'es, e muitas Marias'”. Portanto, como comprovar que esse texto se refere exatamente a Jesus Cristo e não a outro? De qualquer forma, mesmo que fosse, não poderia desfazer o testemunho de milhares de manuscritos, escritores, historiadores em vários lugares sem ao menos referir Jesus como casado.

O principal foco de heresias que tentava solapar o Cristianismo estava no Egito. Willian Burgon afirma:

Ao contrário, os cristãos primitivos de Alexandria foram, provavelmente, muito influenciados pelos heréticos que cresceram lá e que são conhecidos por terem corrompido o texto do Novo Testamento, por Basilides, por exemplo, e Valentinus e seus discípulos.[2]

Portanto, não somente havia documentos antigos que eram ignorados e considerados apócrifos e heréticos, como havia aqueles que tentavam omitir partes das Escrituras ou fazer um cânon próprio para fundamentar suas heresias como no caso de Marcião. Por isso, um simples fragmento que afirma o contrario das demais Escrituras não deve trazer nenhum incômodo a ninguém.

Contra isso ainda está o testemunho de vários escritores e historiadores do começo do segundo século que jamais se referiram a Jesus como casado ou tendo uma esposa. Dentre eles estão: Papias, Justino, Irineu, Hipólito, Eusébio, Crisóstomo e Jerônimo. Todos eles citaram as Escrituras e confirmaram desde os anos 100 a sua autenticidade a qual confirma, pela omissão e inferência, que jamais Jesus foi casado.

Outra dificuldade contra o fragmento de língua copta é que desde o século IV havia versões do Novo Testamento que circulavam no Egito por nome de Menphitic ou Dialética do Baixo Egito. Se houvesse alguma dúvida acerca do celibato de Cristo, o Evangelho não seria tão aceito no Egito, sendo traduzindo até para a língua vernácula da região. Portanto, se essas são traduções das cópias gregas, então já havia a divulgação dos Evangelhos há muito tempo. A própria versão, vindo do original grego para a língua egípcia da época demonstra a sua autenticidade e digna de aceitação por parte da igreja egípcia.


PROVAS TEOLÓGICAS DO CELIBATO DE JESUS

A prova interna acerca do celibato de Jesus Cristo é apenas por inferência teológica e pela total omissão dos relatos dos apóstolos e profetas. Na verdade, Jesus viria como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29, 36). Ele viria com um só propósito: ser o redentor e o meio de salvação para os seus eleitos, a Igreja. A descrição de Isaías não dá espaço para casamento ou ter uma família, já que a descrição é de um cordeiro sofredor:

Isaías 53:2-4  2 Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse.  3 Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.  4 Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.

Apesar de que o texto não explicita o celibato de Jesus, demonstra que ele, como cordeiro mudo e sofredor, teria uma missão de sofrimento e dedicação para redimir, pois ele seria o mais rejeitado dos seres humanos e sem aparência nenhuma.

No entanto, é digno de nota que o casamento não é um entrave para a fé, como pensavam alguns monges. Porém, o propósito de Cristo era específico como redentor da sua igreja, sendo ela mesma a sua noiva.

Os apóstolos identificaram que a Igreja era a própria Noiva de Cristo. Isso demonstrava que ele veio com um só propósito: resgatar uma noiva, que não é filha de homem, mas a sua igreja a quem chamou de “Noiva do Cordeiro”.

Paulo escreveu:

Efésios 5:25-27  25 Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela,  26 para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra,  27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.

Nesse texto, Paulo usa a imagem de uma noiva para ensinar que Cristo veio para amar a sua igreja que é a sua Noiva, demonstrando o seu propósito principal em vir ao mundo – redimi-la. Paulo infere através desse texto que o vácuo de relacionamento conjugal de Cristo foi preenchido pela sua missão em redimir a sua igreja.

Em várias passagens João que era uma testemunha ocular relata que a igreja é a noiva de Cristo:

João 3:28-29  28 Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor.  29 O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim.


Apocalipse 21:2  2 Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo.


Apocalipse 21:9  9 Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro;


Apocalipse 22:17  7 O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.

Portanto, talvez, ainda se possam achar outros fragmentos heréticos, mas será difícil transpor a barreira histórica e o testemunho dos apóstolos e profetas espalhados por manuscritos nos museus do mundo todo. O testemunho dos manuscritos é muito importante, já que foram achados em vários lugares diferentes, demonstrando que a autoridade dos autógrafos em língua grega era uma realidade e sua aceitabilidade como verdade é incontestável.

[1] PICKERING, Wilbur N. The identity of the New Testament Text. Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980, p. 41
[2] BURGON, John William. The last twelve verses of the Gospel according to S. Marcos. Ann Arbor: The Sovereign Grace Book Club, 1959, p. 25-26]


terça-feira, 4 de setembro de 2012

QUESTIONANDO MAIS UM CLICHÊ: IRMÃO VOTA EM IRMÃO





Entre os muitos clichês no evangelicalismo brasileiro, está a famosa frase em tempo de eleição: “irmão vota em irmão”. Facilmente encontramos esse clichê nas bocas dos políticos evangélicos aproveitadores e de pastores avarentos e corruptos para incentivarem os membros de suas igrejas a votarem.

Esse clichê serve para que pastores mal intencionados, avarentos e “comerciantes do Evangelho” possam pressionar suas ovelhas a votarem nos candidatos que negociam ou dão algum benefício às suas igrejas. Esses pastores ainda sequestram a consciência de suas ovelhas afirmando que elas devem autoridade a eles e que, se elas votarem em outro candidato que eles não indicaram, estarão em rebelião. Mais grave ainda, quando o pastor divide o ministério pastoral com as eleições em nome de trazer benefício ao “povo evangélico”. Esses pressionam suas ovelhas e manipulam-nas com esse mesmo clichê exigindo que elas votem nele.

Alguns ainda têm a ousadia de citar versos bíblicos para justificar esse clichê. No entanto, a Escritura nos orienta de outra forma. Ela nos dá base para desconfiarmos dessa expressão que se torna uma arma para aproveitadores em tempo de política.

Precisamos pensar que o ideal é realmente um homem temente a Deus, que esteja com o seu coração na comunidade (não falo em igrejas específicas, mas na cidade como o todo, pois é isso que poderíamos chamar de “amar o próximo”) e que tenha capacidade para estar nos devidos cargos políticos. No entanto, nem sempre isso acontece. Muitas vezes um irmão se candidata, mas não é capaz suficiente de estar naquele cargo, como também não tem ética política, pois somente pensa em beneficiar sua igreja e seu pastor de origem ou as igrejas evangélicas sem analisar a necessidade no sentido geral da cidade.

Portanto, o temor a Deus inclui tudo isso. Desde estar capacitado para o cargo, zelo pela ética como ter uma visão política holística e não sectária.

Muitos desconhecem que existe no homem caído em Adão a imagem e semelhança de Deus e que existem ainda princípios morais e éticos nesse homem. Foi isso que Paulo afirmou:

Romanos 2:14-15  14 Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.  15 Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,

Paulo ainda ensinou aos romanos que ficavam na capital do império e que reclamavam, com certeza, dos governantes buscando rebelar-se contra eles reconhecê-los como ministros de Deus.

Romanos 13:1-4  Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.  2 De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.  3 Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela,  4 visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.

Paulo estava ensinando à igreja de Roma que as autoridades daquela época que eram mais ímpias e idólatras que hoje serviam como ministros de Deus (v.4). Elas cumpriam o propósito de Deus em coibir o mal e equilibrar a maldade humana na natureza herdada em Adão. Portanto, Paulo deixa uma forte base de que Deus usa muito bem as autoridades ímpias para o seu propósito na sociedade. Até mesmo porque existem ímpios mais éticos na política que muitos que se dizem cristãos e crentes.

No Velho Testamento, Deus levantou um homem que não era judeu e chamou-o de “seu ungido”. O nome dele era Ciro, como afirma o profeta Isaías:

Isaías 45:1  Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão.

Isaías 45:13  13 Eu, na minha justiça, suscitei a Ciro e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a minha cidade e libertará os meus exilados, não por preço nem por presentes, diz o SENHOR dos Exércitos.

Isso demonstra mais uma vez que Deus usa ímpios, pois Deus chamou Ciro de seu ungido, escolhido exatamente para cumprir o seu propósito de restabelecer o povo de Israel. Assim também, como Deus usou o rei Nabucodonosor para cumprir o seu propósito de juízo a esse mesmo povo.

Portanto, temos fortes bases para votar em qualquer pessoa que demonstre experiência, ética e conhecimento para administrar a cidade sem que seja necessariamente um crente, que muitas vezes é inapto e desonesto, pois nem sempre estas características estão presentes em crentes ou políticos evangélicos que se candidatam. O próprio Deus exigiu que Moisés escolhesse homens capazes em primeiro lugar:

Êxodo 18:21  21 Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dez;

Notem que Deus ordena que Moisés busque homens capazes, primeiro; depois, tementes a Deus e que aborreçam a avareza. Assim, se um ímpio tem mais características que um crente para um determinado cargo, este deve ser escolhido, pois como alguém pode estar à frente de algo que não entende, ou não estudou para isso, ou não buscou desenvolver suas habilidades para tal cargo? Seria ir contra os dons da graça comum que Deus distribui a todos os homens. Da mesma forma, como alguém pode ser escolhido se é avarento demonstrando através de suas maquinações na igreja para eleger-se?

Textos mal interpretados para esse clichê

Existem alguns textos que precisamos interpretá-los aqui. Eles não são difíceis, mas como a maioria que escolhe esse clichê é de pessoas incautas, devemos citá-los e analisá-los.

1 Timothy 5:8   8 Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente.

O contexto que Paulo está advertindo a igreja nesse texto de 1Ti 5.8 é que as viúvas que não tinham parentes estavam sendo esquecidas (v.3,4) e estavam sobrecarregando a igreja com aquelas que tinham parentes. Por causa disso, Paulo fala para que Timóteo exorte a igreja a ter cuidado com os de sua própria casa. Não quer dizer absolutamente nada sobre política ou escolha de candidatos.

Galatians 6:10  10 Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.

O segundo texto também não diz respeito à política, mas o fazer o bem em prática altruísta, no sentido geral. Mesmo porque, se prestarmos atenção, o voto não é um bem altruísta, mas um dever de cidadão dentro de características que foram acima citadas, pois o altruísmo se anula quando passa a ser feito por dever e obrigação. Se partirmos dessa interpretação, somente compraríamos em supermercado, loja de crente; abasteceríamos somente em posto de irmãos da igreja; matricularíamos somente em escolas de irmãos. No entanto, não é isso que o texto quer afirmar, mas que, antes de pensarmos em fazer uma ação social aos de fora, devemos perguntar se nossos parentes ou irmãos da igreja precisam. Isso nunca inclui a política, já que é uma ação social que exige coerção social conforme Émile Durkheim.

Portanto, irmão não é obrigado a votar em irmão. Candidatos irmãos e pastores que manipulam suas ovelhas por esse clichê, devem mudar seu procedimento e entender que os irmãos que se candidatam devem convencer pela capacidade administrativa, ética e verdade, pois tudo isso se resume em temor do Senhor. Caso não haja, ou até mesmo existam outros candidatos melhores em capacidade e comprometimento, os irmãos devem fazer uso da plena liberdade e democracia em votar naqueles candidatos que forem mais capazes e coerentes.

sábado, 14 de julho de 2012

PODE HAVER DANÇA NO CULTO? – UMA ANÁLISE BÍBLICA




Nesses últimos anos tem havido um grande questionamento com respeito a danças no culto. Isso se deve ao crescimento de coreografias no louvor nos cultos de igrejas neopentecostais e renovadas.

O que antes as danças vinham espontaneamente na hora do louvor nos cultos, essas igrejas inovaram com uma coreografia concomitante ao louvor. Isso caracterizou-se como uma marca de igrejas neopentecostais levando igrejas históricas a tomarem uma decisão de proibição quanto à essa liturgia no culto. Como para se proibir alguma coisa na igreja precisa-se ter a autoridade das Escrituras, não faltou pastores e estudiosos que tentaram achar que não há base bíblica para danças e coreografias.

O Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil reuniu-se no final de 2010 para examinar a questão de danças, coreografias e o bater palmas em cultos públicos. Chegaram a conclusão que danças, coreografias não podiam porque “as danças e coreografias não fazem parte do culto público oferecido a Deus conforme revelado na Bíblia e que, portanto, as igrejas devem excluir tais práticas de suas liturgias”[1]. Ainda é afirmado no blog que quanto a bater palmas “fica a critério de cada igreja local”. Porém, o concílio chegou a uma conclusão que as cantatas que incluem apresentações teatrais “continuam a ser permitidas”. Embora o Dr. Augustus Nicodemus deixe claro que ainda fica uma dúvida se elas podem ser enquadradas dentro da categoria das danças.

Antes de analisar essa decisão do Supremo Concílio da IPB, gostaria de afirmar o meu respeito por essa denominação. Acredito que é uma das poucas denominações sérias que existem no Brasil nesse conturbado problema doutrinário do evangelicalismo brasileiro. Também, quero dizer que existem mestres e pastores de mais alto nível, mas como estamos todos caídos em Adão, a Palavra de Deus sempre terá a primazia, pois foi o próprio Paulo que disse : “ainda que nós ou um anjo vos pregue evangelho que vá além do que temos pregado seja anátema” (Gl 1.8).

Primeiro, eu quero justificar por que eu estou analisando a decisão do Supremo Concílio da IPB. Uma coisa é uma decisão que a denominação toma deixando claro que a Bíblia deixa livre alguns pontos como foi colocado no bater palmas. Outra coisa é afirmar que as danças não podem em culto público porque não existe base na Bíblia.

Diante dessa afirmação, precisamos analisar a decisão do supremo concílio e buscar analisar as Escrituras abrindo-as e buscando o que ela realmente afirma aos mais incautos que não têm acesso a um exame mais detalhado e exegético, pois existe muita manipulação até nas traduções da Bíblia com respeito a esse assunto para chegar aos interesses doutrinários para que seja agradável a um determinado público cristão.

O que me impressiona é a total incoerência até mesmo sem ao menos tocarmos em um texto bíblico, pois fica evidente que a Bíblia está sendo usada como uma desculpa de proibição na denominação. Notemos: foi achado base para proibição de danças, mas não para teatros em cantatas e palmas. Sendo que é no mesmo VT que existem base para as palmas e danças (embora que rejeitam os textos como tal para base de danças) e não existem nenhuma para representações teatrais. No entanto, as cantatas teatrais são aceitas e as danças não. Difícil não perceber a incoerência e a falta de lógica. Por que as dúvidas são somente para as cantatas teatrais, sendo que não há nenhuma menção na Bíblia sobre elas e não para a proibição das danças em si com textos claros no VT? No entanto, ao contrário, fala-se com toda convicção que “não existe base na Bíblia” para danças no culto. Por que isso?

Facilmente sabemos quando uma doutrina ou uma proibição são humanas, mesmo tendo uma suposta base bíblica. No meio dessas doutrinas, existe uma brecha de incoerência, contradição e o mais grave que acho, desculpas simplistas diante de textos bíblicos claros.

A consequência disso, na minha opinião, é que os pastores da denominação não vão suportar a tamanha incoerência, contradição e base bíblica, embora que todos os textos que dão base ao contraditório da decisão do Supremo Concílio sobre danças estejam já anulados com um pressuposto hermenêutico errado e até perigoso de que a base para o culto é somente o NT o qual iremos analisar nesse texto.

Portanto, meu objetivo é analisar as Escrituras quebrando as falácias em relação a esse tema, pois quando alguém ensina uma proibição do que Deus permite transgride da mesma forma que alguém que ensina fazer o que Deus proibiu. Quando há o silêncio bíblico, podemos até ser flexíveis, mas quando a Escritura coloca como uma permissão e até incentiva a uma determinada coisa, torna-se grave a proibição e são dignos de rejeição total nesse tema.

1.   O problema hermenêutico nesse tema


Todo o problema da base bíblica para as danças está no pressuposto hermenêutico errado dos teólogos que analisam esse tema. Eles afirmam que a base para o culto cristão está somente no NT e que somente nele podemos ter a forma do culto cristão e não no VT.

O Dr. Augustus Nicodemus, em seu blog escreve o seguinte quando fala com respeito a danças:

Vou começar admitindo, por um momento, que o Salmo 150 está falando do templo em Jerusalém e de danças durante o culto. A pergunta, que deveria ter sido feita desde o início, é se o culto cristão toma sua inspiração, gênese e formato do culto do Antigo Testamento. Para mim, a resposta é negativa, embora com qualificações [2].

Ele ainda afirma o seguinte com respeito aos cultos:

Ao que tudo indica, os cristãos deram continuidade ao culto no Antigo Testamento apenas no que se refere aos princípios espirituais: a idéia de encontro com Deus, de adoração, de louvor, de solenidade, de alegria, de serviço espiritual como povo do Senhor... mas foram buscar nas sinagogas o formato para este culto mais simples e despojado. Nas sinagogas, instituição onde cresceram o Senhor Jesus e todos os apóstolos, havia leitura e pregação da Palavra, orações, cânticos e bênção.


Existem muitas dificuldades que o Dr. Augustus Nicodemus não tratou no seu texto. A primeira é que a Bíblia jamais coloca um modelo ou formato para o culto cristão como foi escrito. Isso é completamente sem base bíblica. A prova disso é que a Igreja do NT se reunia no templo de Herodes (At 2.46; 3.1), casas (At 2.46; 12.12; Rm 16.5; 15), em cenáculos (At 20.8) e nas sinagogas (Tg 2.2). Mais na frente, a história registra que a igreja se reunia nas catacumbas. Portanto, afirmar que o formato de culto da igreja é a sinagoga não se sustenta e é no mínimo perigoso, já que não estamos mais ligados a cerimônias e as sinagogas tinha uma certa cerimônia a cumprir. Por outro lado, Jesus deixou claro que o formato é quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome (Mt 18.20). O culto não seguiria mais um modelo de lugar nem do VT nem do NT. A evidência disso é os vários lugares registrados nas Escrituras onde os apóstolos faziam culto e que jamais isso foi exigido pelos apóstolos.

No entanto, o que impressiona é que existem mais versos que falam da igreja se reunindo em casas e no templo de Herodes que com a palavra sinagoga. Existe apenas uma vez com Tiago. Portanto, jamais os apóstolos queriam que tivéssemos como formato e modelo a sinagoga ou qualquer outro lugar, devido os vários textos demonstrando a variedade dos lugares. Portanto, afirmar que o modelo da igreja do NT é a sinagoga é, no mínimo, deficiente de base exegética e bíblica.

No entanto, precisamos entender que apesar de que os apóstolos não fecharam a questão do formato do culto, eles deixaram princípios que estão tanto no VT como no NT para que haja esse culto. Nesse caso, devemos analisar sempre TODA A ESCRITURA e não somente o NT (2Tm 3.16;17). Acredito que a resposta para isso é que Deus foi sensível às várias culturas que tem suas próprias peculiaridades de cultuá-lo. Por exemplo, os africanos tem uma peculiaridade de cultuar a Deus diferente dos europeus; os brasileiros diferentes dos americanos. Assim, Deus deixou os princípios que estão revelados tanto no VT como no NT, mas deu liberdade para cultuá-lo quanto ao formato de culto.

Notemos que Paulo ao buscar base para a ordem do culto na igreja de Corinto ele usa o VT. Ele escreveu:

1 Coríntios 14:20-21  20 Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos.  21 Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. 

Notemos que Paulo está falando no contexto de culto e de liturgia para mostrar a total desordem dos coríntios. Mesmo assim, Paulo usou o VT no texto de Is 28.11,12.

No mesmo capítulo Paulo ensina os coríntios a usarem os salmos (cantados ou não, mesmo sabendo que a palavra ψαλμος quer dizer também cânticos). Ele escreveu:

1 Coríntios 14:26  26 Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.

Todos esses textos demonstram que Paulo fez uso do VT para tirar princípios para o culto do NT. Desta mesma forma, Paulo escreveu aos coríntios falando da ceia e baseando-se na cerimônia do templo no VT (1Co 10.17-21).

Portanto, os princípios precisam ser buscados e analisados por toda a Escritura, pois ela é toda inspirada. No entanto, o NT nos dá a base para sabermos que algumas cerimônias do VT não devem ser mais usadas no culto público. Por exemplo: o sacrifício de animais, uso de shoffar, denominação de levitas aos que cantam no louvor, trazer e levar alguma arca, vestimentas judaicas, etc. O NT ensina que tudo isso se cumpriu em Cristo ou era somente para a nação de Israel. No entanto, no que diz respeito a bater palmas, cantar, tocar e dançar o NT JAMAIS ensina que deveríamos deixar de fazer no culto público. Ao contrário, é incentivado como veremos mais adiante quando analisarmos o salmo 150.

O problema hermenêutico aumenta ainda mais quando alguns fazem diferença entre elemento do culto e circunstâncias do culto. O Dr. Augustus Nicodemus afirma o seguinte:

1)    Os elementos de culto -- são aquelas atividades determinadas pelas Escrituras nas quais o povo de Deus se engaja durante o culto, com o propósito de adorar a Deus, render-lhe graças e louvor, edificar-se internamente e anunciar o Evangelho ao mundo.
2)   As circunstâncias de culto -- se fizermos esta distinção entre elementos de culto e as circunstâncias que atendem estes elementos talvez possamos eliminar boa parte das dificuldades que cercam algumas das questões relacionadas com o culto público… Tais circunstâncias estão relacionadas com o ambiente de culto, e envolvem decisões quanto à amplificação do som, uso de mídia, arrumação do salão, mobiliário adequado e sua disposição no local, a iluminação e decoração do ambiente, entre outros


Até podemos entender essa distinção bem didática. No entanto, essa distinção é completamente arbitrária e digna de um exame detalhado das Escrituras.

As Escrituras não fazem nenhuma divisão entre o que o Dr. Nicodemus chama de elementos e circunstâncias. Na verdade, a Escritura coloca tudo como fazendo parte do culto (Sl 150.1-5). Notemos que, independente como se interpreta o salmo 150, os instrumentos e as danças fazem parte do louvor a Deus no santuário. Tudo faz parte do culto, quando é coerente e cabe base bíblica para tal. Por exemplo, quando se usa um instrumento musical no culto, esse instrumento passa a ser elemento deste culto que é o louvor, assim como a vasilha do pão e o cálice fazem parte do culto na ceia.

Da mesma forma que existem cultos que não tem a ceia do Senhor, pois ela, em algumas igrejas, é celebrada mensalmente, os instrumentos podem deixar de estar num culto e mesmo assim ser culto. Elementos do culto não precisam estar em todos os cultos, mas de acordo que a necessidade exija. Da mesma forma, se não tiver um instrumento no louvor, o culto ainda não perde a sua característica, mas se tiver, esse deve fazer parte dos elementos, pois devemos louvar o Senhor com instrumentos e os instrumentos eram chamados por Davi de “instrumentos de música de Deus” (1Cr 15.16; 16.42; Sl 150.4). Por isso, podemos pensar da mesma forma com o pão e o vinho (ou suco de uva), pois eles fazem parte dos elementos do culto por estarem acompanhando a ceia. Como cantar ao criador dos céus e da terra sem instrumentos, se foi ele que deu a inteligência para tal coisa e ordenou que se faça isso? Talvez por isso a ordem de Deus nos salmos. Portanto, os instrumentos são elementos também como também as danças.

Quando alguém louva a Deus com palmas, essas fazem parte do culto e tornam-se elementos também do culto. Da mesma forma, a Palavra de Deus precisa ser pregada, seja com microfone ou não. Caso tenha, este faz parte do culto como seu elemento também, pois através dele as pessoas estão ouvindo.

No entanto, alguns podem refutar baseado no conceito do próprio Dr. Nicodemus que elemento do culto é aquilo que é essencial no culto e as circunstância, não. Porém, quem é que diz o que é essencial no culto, se não a própria Palavra de Deus? A Bíblia coloca os instrumentos como parte do culto (qualquer que seja a interpretação do Sl 150.4). Como dissemos, se alguém tem microfones, instrumentos para louvor e não os usa, não deixa de prejudicar os elementos do culto, conforme essa interpretação, logo esses objetos são essenciais ao culto. Para ilustrar isso é só lembrar que Deus exigiu objetos na construção da tenda fazendo parte da plena adoração a Deus. Claro que hoje não precisamos dos objetos ritualístico do VT, mas precisamos entender que Deus vê os objetos como essenciais ao culto, se esses podem melhorá-lo, assim como aconteceu no VT. Qual pregador poderia pregar para uma multidão sem um microfone ou uma música que não fosse melhor cantada e ministrada sem um instrumento?

Alguém poderia objetar que os apóstolos não tinham, mas havia as técnicas daquela época e o barulho era inferior ao de hoje com energia elétrica e carros. Seria difícil usar essas técnicas nas nossas cidades cheias de barulho.

No entanto, o que Paulo deixa bem claro é a prioridade do culto, que deve ser a doutrina, sem fazer essa separação entre elementos e circunstâncias. Ele escreveu:

1 Coríntios 12:28  28 A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.

Afinal de contas, podemos separar elementos e circunstâncias nesse texto? Claro que não. Seria um erro gravíssimo, pois Paulo afirma que Deus estabeleceu na igreja todos. Embora que Paulo coloque como prioridade os apóstolos, profetas, que se referiam à própria Palavra de Deus na época, porém, os mestres, os operadores de milagres, dons de cura e variedade de línguas devem fazer parte também do que Paulo disse sobre o que Deus estabeleceu na igreja.

No entanto, a variedade das línguas não acontece em todos os cultos, os socorros, as operações de milagres. Mesmo assim, não deixa de ter culto se elas não tiverem, mas caso tenham, a prioridade é a Palavra de Deus. Não porque um é elemento e os outros são circunstâncias, mas porque desses elementos, a Palavra tem prioridade, acima mesmo dos louvores. Portanto, quem tem autoridade para dizer que o que Deus ordenou ou estabeleceu na igreja não é elemento do culto?

Portanto, os elementos do culto segundo as Escrituras eram tudo que dizia respeito à Palavra, oração, louvor, dons espirituais. Isso inclui pão, vinho, instrumentos, danças, microfones, bancos, dons espirituais, pois algumas coisas somente seriam feitas bem feitas fazendo uso destas, pois “quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31).

O que podemos notar é que o culto a Deus era muito diversificado cabendo cada igreja a agir com bom senso dando prioridade à Palavra de Deus, não porque era usada nas sinagogas, mas porque a própria Escritura a coloca como prioridade. No entanto, a forma de louvar a Deus ficaria para o bom senso das igrejas, louvando a Deus de forma que o glorifique segundo as Escrituras do VT e NT (infelizmente, temos que ser redundantes enfatizando os testamentos)

Portanto, diante disso, pergunto: como alguém pode ter a coragem de afirmar que os princípios nos Salmos não são para ser usados na igreja cristã dos nossos dias no que diz respeito à forma do culto? Com base em que alguém pode afirmar isso? Com qual base do NT podemos dizer que as danças no culto não são mais para hoje? Realmente, é difícil uma pessoa que tenha um mínimo conhecimento de hermenêutica e de Bíblia aceitar essas afirmações sem questionar.

2.     Análise do Salmo 150

Precisamos analisar o Salmo 150, pois devido a clareza que o autor escreve sobre as danças, muitos tentam anulá-lo ou agem de uma forma completamente desonesta traduzindo a palavra “danças” para “flautas”.

2.1. Significado da palavra קדש qodesh no texto

Comecemos pelo significado da palavra קדש qodesh “santuário, coisa santa”. O Dr. Nicodemus afirmou o seguinte:

Mas, na verdade, não é certo que o Salmo 150 esteja falando de danças no templo. Em primeiro lugar, a palavra “santuário” mencionada no verso 1 nem sempre significa o local da adoração em Jerusalém, onde o culto determinado por Deus era realizado de acordo com todos os seus preceitos. A palavra b’kadoshu, significa literalmente “em seu santo”. Logo, sua tradução primeira seria “em seu santuário” e não “em seu Templo”. Precisamos, portanto, considerar a possibilidade de que o santuário de Deus aqui referido não é o local físico do templo, mas o local da sua santa habitação, ou seja, os céus.

Segundo o Dr. Nicodemus, a palavra קדש qodesh que foi traduzida para “santuário” "nem sempre significa" o templo de Israel, dando a entender que é uma opção bem remota. Ele argumenta que a palavra não dá espaço para afirmar que é para o templo físico e traduz a expressão בקדשו b’kadesho como “no seu santo”. Por isso, não seria o local físico mas seria o céu.

O Dr. Nicodemus seguiu a interpretação de Calvino que afirmou no seu comentário do Salmo 150:

Este salmo, em geral, exalta o culto espiritual de Deus, que consiste em sacrifícios de louvor. Para a palavra “santuário” há pouca dúvida de que o seu significado seja o “céu”, como é frequentemente usado em outros lugares.[3]

Para Calvino, portanto, a palavra “santuário” não corresponde ao templo, mas o lugar de habitação de Deus, embora que ele não se aprofundou para chegar a essa conclusão.

No entanto, com todo respeito à erudição e piedade de Calvino e do Dr. Nicodemus, essa exegese foi completamente precipitada, abrupta e digna de maior análise da palavra discutida.

O substantivo קדש qodesh é muito usado para santuário referindo-se ao templo físico e tem tantas passagens que é de acreditar que não houve pesquisa suficiente sobre esta palavra da parte de Calvino e do Dr. Nicodemus.

Apenas vamos citar algumas de várias: Lv 5.15; 6.23; 7.6; 10.17; Nm 7.9. Em todas essas passagens o substantivo קדש qodesh “santuário” se refere ao templo físico. Portanto, quando se interpreta que o salmista se refere ao santuário do templo, é perfeitamente legítimo e mais coerente exegeticamente, pois Davi confirma esse salmo quando ordenou que os levitas cantassem e tocassem no templo (2Cr 5.13; 7.6).

O dicionário internacional de Teologia do Velho Testamento afirma que a palavra קדש qodesh pode perfeitamente ser usada para objetos sagrados, que no caso seria o templo. Ele afirma o seguinte:

Via-se aquilo que era dedicado a Deus como algo que entrava no domínio do “sagrado”. Isso incluía os vários elementos da adoração levítica denominados “coisas sagradas” (Lv 5.15,16), o fruto da terra (Lv 19.24), bens pessoais (Lv 27.28) e despojos obtidos em ação militar (Js 6.19). Os sacrifícios que deviam ser comidos apenas pelos sacerdotes eram denominados “santos” em virtude de serem totalmente dedicados ao domínio do sagrado, o qual era representado pelo sacerdócio (Lv 19.8).[5]

John Gill no seu comentário do Salmo 150 escreve: “Louvai a Deus no seu santuário; no templo, a casa do seu santuário como está no Targum e R. Judah”[7]. Apesar de que Gill reconheça que pode haver um sentido para os céus também.

Não obstante a tudo isso, essa interpretação é mais inteligente, pois ninguém toca instrumento no santuário de Deus nos céus e a ordem é para que louvássemos com instrumentos de cordas.

O Dr. Derek Kidner, em análise do salmo 150 no seu livro de comentário dos salmos escreve:

O Saltério de Coverdale (PBV) tem “louvai a Deus na Sua santidade” que é uma tradução viável; a linha paralela, no entanto, “no firmamento do seu poder” (ARC), sugere que “santidade” aqui tem o seu sentido secundário: seu santuário (ARA). Desta forma, a chamada é dirigida aos adoradores de Deus na terra, encontrando-se no seu lugar escolhido, como também à sua hoste celestial.[4]

O Dr. Derek demonstra que a palavra “santuário” corresponde ao lugar da habitação de Deus que era o lugar que Deus escolheu de manifestar a sua glória, que é o templo no VT, embora que ele admita que inclui o céu também.

Na verdade, a ordem do salmista é que Deus seja adorado no santuário que estava no templo. Essa é a interpretação mais natural que se pode dar ao salmo 150.1. Um judeu não teria uma visão do santuário-habitação de Deus como os apóstolos tinham no NT. Isso veio com a revelação apostólica do NT (Hb 8.1,2; 9.1-9).

Quando alguém afirma que o salmista quis afirmar “santuário” ou “coisa santa” como a habitação de Deus no céu erra com anacronismo de mais alto grau, porque isso veio somente com a revelação dos apóstolos. No entanto, podemos aplicá-la para isso sabendo que o autor aos Hebreus escreveu que era uma “parábola para época presente” (Hb 9.9), pois agora os verdadeiros adoradores adorariam não mais em um lugar, mas em espírito e em verdade (Jo 4.23).

O que se pode notar na ordenança do salmista é que deveríamos louvar a Deus no seu santuário (no templo) e que lá está o “firmamento do seu poder” (assim está no original hebraico que a ARC traduziu muito bem). O salmista estava convocando que Yahweh fosse louvado no templo que é o lugar da sua santidade e do “firmamento do seu poder”. Seria lá que a sua glória encheria e a sua promessa se cumpriria em atender a oração do seu povo (2Cr 5.14; 7.12-16).

2.2. Análise da palavra “danças” do verso 4

Psalm 150:4  4 Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.

ומחול בתף הללוהו “Louvai com adufe e dança”

A análise da palavra מחול machol “dança” é fundamental na interpretação desse salmo porque se de fato a palavra diz o que ela quer dizer, a dificuldade aumenta àqueles que advogam que não se pode dançar nos cultos, pois Deus ordena que o louvem com danças.

Algumas traduções traduzem a palavra מחול machol “dança” para “flautas” em uma total desonestidade, na minha opinião, pois mudam o que o texto realmente quer dizer.

Os tradutores também traduziram o Salmo 149.3 da mesma forma colocando a palavra מחול machol “dança” para flauta. O problema disso é que a palavra מחול machol não tem nada a ver com flauta. Essa palavra, segundo Strong, vem de uma raiz que quer dizer “torce-se, revirar-se”. Daí vem a palavra dança.

Por isso que os rabinos que fizeram a LXX entenderam exatamente o que a palavra hebraica quer dizer: “dança”. Em todas essas passagens, os rabinos da LXX colocaram a palavra χορός choros “dança” e essa palavra também não tem nada a ver com flautas.

Os rabinos de língua portuguesa também entenderam a palavra como מחול machol como dança. Veja como os rabinos traduziram numa versão judaica dos salmos para a língua portuguesa o verso 4 do Salmo 150:

Louvai-O com melodias e ritmo, louvai-O com a música de órgãos e flautas.[6]

Notemos que os rabinos traduziram para ritmo, pois a palavra quer dizer movimentação em danças e tiveram a sensibilidade de não repetir a palavra “flauta” como alguns tradutores fizeram de uma forma infeliz.

A Vulgata também coloca em todas as passagens desta palavra hebraica o vocábulo chorus “dança”, com exceção do Sl 30.12 que traduziram para gaudium “alegria”. Mesmo assim. Fica implícito nessa palavra regozijo em danças.

A maioria das traduções brasileiras e inglesas foi honesta nessa palavra. As traduções brasileiras que têm danças para o Sl 150.4 são: ARA, ACF, BRP, SBP, NTLH, TB, NVI, BV. Ficando somente a tradução da ARC traduzindo para a palavra “flauta”. Já as versões em inglês, que foram honestas, tem a maioria também: CSB, ASV, BBE, CSB, DBY, ERV, ESV, GWN, KJV, NET, NIB, NKJ, NLT, YLT, NRS. Ficando somente as versões DRA que traduz para “organs” e GNV que traduz para “flute”. (Pode até haver uma ou outra versão que complete as listas, mas as principais e mais lidas são essas).

Portanto, facilmente notamos a desonestidade dos tradutores. Notem que מחול machol “dança” é usada apenas seis vezes no VT. Três nos salmos (Sl 30.12; 149.3; 150.4) e três nos profetas (Jr 31.4; 31.13; Lm 31.5). Por que os tradutores traduziram somente nos Salmos para “flautas”, “folguedos” e não “danças” como foi traduzido nos profetas? Somente há uma resposta: a tentativa de desviar o que o texto diz de uma forma clara.

Porém, existem muitas outras incoerências se traduzirmos a palavra מחול machol “dança” para “flauta”. A primeira é que a palavra flauta se repete no mesmo verso fazendo da poesia um pleonasmo patético. Notemos: Louvai ao Senhor com adufe e flauta; louvai com instrumentos de cordas e com flautas. O salmista seria seriamente questionado de sua capacidade poética, devido a redundância e inutilidade da segunda palavra “flauta”, já que já tem a ordem para louvar com flauta no começo do verso.

A outra dificuldade é como separar a ordem de louvar com adufe e a ordem de louvar com danças no culto público. Ou seja, as danças não podem, o adufe como instrumento pode. Realmente isso não é inteligente.

Há aqueles que afirmam que o salmo é uma demonstração que a dança não é pecado em si, mas não dá base para dançar no culto público. Existem vários problemas com essa afirmação. Primeiro é que o salmo é falado no contexto de louvor e adoração, não num contexto de balada ou de uma dança romântica como afirmam esses intérpretes, pois a ordem é para louvar ao Senhor; cantando e dançando para ele, não com mulheres e nem para outras finalidades.

Segundo problema é que o texto afirma claramente quem é o objeto desse louvor. O texto afirma que devemos louvar a Deus “louvai-O com adufes e danças”. Se dissermos que esse texto é para afirmar que danças não são pecado, então como interpretar a ordenança de louvar objetivamente com instrumentos de cordas? As danças seriam para dançar com a namorada e os instrumentos de cordas, seriam para quem? Para as “serenatas”?  Será que alguém desviaria completamente a objetividade do louvor desse salmo para os homens? Realmente não existe interpretação mais patética e desajeitada que essa e digna de total rejeição dos que creem na Bíblia.

Portanto, o Salmo 150 é ainda hoje para a igreja e sempre será, com a única diferença: nós não precisamos ir ao Santuário para louvar a Deus, hoje, porque todas cerimônias se cumpriram em Cristo, mas louvemos com instrumentos, danças, pois é ordem do Senhor e em nenhuma passagem do NT ensina que não deveríamos mais tocar com instrumentos ou deixarmos de dançar. Qualquer desvio disso é erro, pois desmente o próprio Deus que ordena na sua Palavra para louvarmos com instrumentos e com danças.

3.     Outros textos que confirmam o Salmo 150.4

Uma das regras básicas de Hermenêutica é que a Bíblia explica a si mesma. Então perguntamos: existe alguma analogia de outros textos em relação a danças no restante das Escrituras para fundamentarmos o Sl 150.4? A resposta é sim.

Primeiramente precisamos ver que Miriam dançou na presença de Deus (Ex 15.20,21). Miriã era profetiza e ela, para louvar a Deus pelo livramento, dançou com as outras mulheres dizendo: 

Êxodo 15:21  Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.

Alguns afirmam que o que Miriã fez não é base para fazermos no culto cristão, pois o motivo era apenas por causa da libertação do Egito. No entanto, Cristo é considerado o nosso Cordeiro Pascal (1Co 5.7) e, da mesma forma que Israel saiu do Egito, fomos libertos para Deus (1Co 10.1-4). Portanto, é perfeitamente legítimo alegrar-nos em Deus dançando e louvando o seu nome pela nossa libertação do juízo de Deus em Cristo Jesus.

Segundo: precisamos ver que Davi dançou em pleno ritual de adoração (2Sm 6.12-22). Notemos que Davi estava diante da arca de Deus. Reverência e respeito eram essenciais àqueles que se aproximavam dela. Não é à toa que Davi sacrificava bois e carneiros em cada seis passos (v.13). Também, Davi trazia a estola sacerdotal demonstrando que era um momento sagrado e especial. No entanto, Davi dançou com todas as suas forças diante do Senhor (v.21).

Portanto, vem a pergunta: podemos dançar no culto cristão como Davi dançou diante da arca? Precisamos analisar as Escrituras para eliminar o que não precisamos mais. Não precisamos mais dos holocaustos e sacrifícios que Davi fazia nesse episódio (Hb 10.9-19); não precisamos mais  de levar a arca, pois a presença de Deus está já em nós pelo Espírito Santo de Deus (1Co 3.16); não precisamos mais de uma estola sacerdotal nem de sacerdotes porque Cristo já nos fez sacerdotes reais (1Pe 2.9; Ap 1.6). No entanto, perguntamos: haveria alguma objeção sobre as danças no NT para que não as façamos, sendo que em todas as épocas sempre as danças fizeram parte das músicas e danças dos povos, inclusive do povo judeu? É claro que não.

Outro texto é o profeta Jeremias 31.4; 11-13. Esse é mais claro e, na minha opinião, elimina qualquer dúvida se as danças são para o culto cristão:

Jeremias 31:4  4 Ainda te edificarei, e serás edificada, ó virgem de Israel! Ainda serás adornada com os teus adufes e sairás com o coro dos que dançam.

Jeremias 31:11-13  11 Porque o SENHOR redimiu a Jacó e o livrou da mão do que era mais forte do que ele.  12 Hão de vir e exultar na altura de Sião, radiantes de alegria por causa dos bens do SENHOR, do cereal, do vinho, do azeite, dos cordeiros e dos bezerros; a sua alma será como um jardim regado, e nunca mais desfalecerão.  13 Então, a virgem se alegrará na dança, e também os jovens e os velhos; tornarei o seu pranto em júbilo e os consolarei; transformarei em regozijo a sua tristeza.

Notemos que quem está falando é o próprio Yahweh. Não é o escritor Jeremias, mas o próprio Deus através do profeta. Ele chama Israel de virgem e que sairá adornada com os que dançam. Deus que quer que ela saia com os que dançam toda adornada e preparada ao seu Noivo que é o próprio Yahweh.

Usemos a lógica agora: Se o próprio Deus chama Israel demonstrando que ele quer que ela dance com os adufes, como negar que as danças não são para o culto cristão se esse momento é somente para ele? Notemos que esse verso segue o que o Sl 150.4 ordena: louvai com adufes e danças, pois ela sairá com os adufes e com o coros dos que dançam, confirmando assim o salmo 150.4.

Notemos que em Jr 31.11-13 é o Senhor que motivou as danças de sua noiva, Israel, e é ele que fará Israel se alegrar nas danças. Portanto esses textos nos profetas confirmam o Sl 150.4 como Deus ordenando-nos a usarmos as danças para ele.

No NT, há um texto muito interessante no episódio da parábola do filho pródigo:

Lucas 15:25  25 Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.

Podemos perguntar o que esse texto tem a ver com danças na adoração pública? Se pensarmos que o que Jesus contou tinha um propósito e que os apóstolos que eram inspirados por Deus entenderam isso, precisamos entender que ali estava a comemoração da volta daquele filho perdido à comunhão com o seu Pai que era Deus. Portanto, Jesus deixou claro que as danças eram legítimas naquela ocasião.

É verdade que não podemos nos apegar aos detalhes das parábolas, mas é difícil não perceber isso quando temos Miriã que dançou no episódio da libertação do Egito, Davi diante da arca da Aliança celebrando a graça de Deus na sua vida e a ordem do salmista que louvássemos com adufes e danças, pois Jesus queria mostrar que a comunhão com o Pai e o filho perdido era celebrada com danças e muita alegria. Até porque, a palavra que Lucas usou é a mesma usada na LXX –  χορός choros “dança”.

4. Exageros e coreografias nos cultos públicos

Precisamos admitir que existem muitos exageros. No entanto, os erros ou as distorções da verdade não podem eliminá-la. Temos que admitir que algumas coreografias tiram o objetivo central que é concentrarmos em Cristo e somente nele esperarmos. Isto quer dizer que Cristo tem que ser o centro do culto. Existem coreografias de homens que se arrastam como mulheres e mulheres que são jogadas no ar como se fosse um balé num teatro. Claro que isso não é adequado às igrejas.

No entanto, assim como existem coreografias exageradas, também existem pregações superficiais e com pouca base bíblica e heréticas; assim como existem também louvores que exaltam mais o grupo em si que o Cristo que cantam. Da mesma forma as cantatas, elas podem perfeitamente tirar o foco central que é Cristo e o grande objetivo ou a prioridade do culto que é a Palavra de Deus. Existem cantatas que são extensas e tomam muito tempo que deveria ser para a pregação da Palavra de Deus.

Portanto, precisamos entender que os exageros e desvios podem existir em todos os elementos do culto.

Na minha opinião, as danças deveriam ser espontâneas no culto público, pois a ordem no Sl 150.4 é para todos e não somente para um ministério. Precisamos também entender que dança profética não existe, pois isso não tem nenhuma base bíblica.

Portanto, quero convidar a todos a louvar a Deus com instrumentos de cordas e com danças, pois o próprio Deus ordenou para louvá-lo com adufes e danças.




[3] Calvin John. Commentary on Psalms. Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library, 1999, p. 199.
[4] KIDNER, Derek. Salmos 73-150: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1975, p. 495.
[5] HARRIS, R. Laird; ARCHER, Gleason L; WALTKE, Bruse K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1322.
[6] FRIDLIN, Vitor; GORODOVITS, David; FRIDLIN, Jairo. Salmos com tradução e transliteração. São Paulo: Editora Sefer, 2003, 3a ed.
[7] GILL, John. Bíblia On Line. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil.