A
páscoa é uma festa exclusivamente judaico-cristã. A própria etimologia da
palavra vem do verbo hebraico pasah פסה que quer dizer “passar sobre”,
“poupar”. Esta palavra vem do Velho Testamento na ocasião do Êxodo quando Deus
fala a Moisés: “Mas o sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes;
vendo eu o sangue, passarei por cima
de vós” (Ex 12.13). Desse verbo hebraico vem a palavra hebraica pesah פסה e, dessa palavra, os gregos transliteraram
para pascha πάσχα.
Deus ordenou os judeus que celebrassem o episódio da saída da terra do Egito
através do derramamento do sangue de um cordeiro, pois Deus veria apenas o
sangue desse cordeiro nos umbrais das portas como expiação e redenção para não
punir com morte os primogênitos (Ex 12.13,14). Os judeus passaram a celebrar no
dia 14 do mês de Nisan essa festa que celebra a libertação através do sangue de
um cordeiro. A festa começava ao entardecer ou depois do pôr do sol (15 de
Nisan). O sacerdote aspergia o sangue dos cordeiros sobre o altar do holocausto
e a refeição da Páscoa ocorria na tarde anterior (14 de Nisan). A refeição
começava pelo chefe da casa que oferecia uma dedicação de uma taça de vinho e
todos bebiam; depois, comiam um prato preliminar antes da refeição oficial. A parte
mais importante era quando chegava o haggadah
da Páscoa, pois o chefe da casa narrava a história do Êxodo do Egito segundo Dt
26.5-11.
Esses
episódios demonstram que a páscoa tinha como objetivo falar de uma forma
simbólica da pessoa, vinda e do sofrimento do Messias, pois Jesus Cristo foi
chamado por João Batista de “O Cordeiro de Deus que Tira o Pecado do Mundo” (Jo
1.29; 36) e reconhecido pelo apóstolo Paulo como “O Nosso Cordeiro Pascal” (1
Co 5.7). O evangelista Marcos tenta dar essa pista quando descreve a Ceia com
seus apóstolos (Mc 14.12) chegando a dizer que era quando se fazia o sacrifício do Cordeiro Pascal. O evangelista João
também demonstra que Jesus era um tipo do Cordeiro Pascal do Velho Testamento
quando lembra a páscoa no episódio da prisão e sofrimento de Jesus (Jo 18.28;
19.14). Jesus foi identificado como esse cordeiro porque ele seria aquele que,
através de seu sangue, poderia fazer Deus passar
por cima do seu juízo àqueles que confiassem no sacrifício desse Cristo e
no seu sangue puro como aconteceu com os israelitas no Egito pondo o sangue do
cordeiro nos umbrais das portas. Ao que parece, Jesus foi morto exatamente
quando se matava o cordeiro do sacrifício da Páscoa em Jerusalém, na tarde 14
de Nisan (Mc 14.12; Jo 19.14). Antes, Jesus Cristo fez a refeição da páscoa com
seus discípulos e ali ele instituía a Ceia que lembraria o seu sofrimento em
prol da humanidade.
Portanto, diante desse
background, o que significa o verdadeiro sentido da Páscoa? Como uma festa
exclusivamente de origem judaico-cristã pode ter símbolos tão desassociados do
seu significado e até não inteligentes como um coelho e um ovo? Quando se
coloca um coelho e um ovo como símbolos da Páscoa, mesmo que se tenha uma
explicação de um surgimento pagão ou de uma história qualquer, no mínimo esse
conceito se torna obtuso. Alguns chegam a dizer que o real sentido da Páscoa é
somente a ressurreição de Cristo; porém, pelo que foi supra demonstrado e pela
própria Escritura fica incompleto o significado da Páscoa se apenas a ressurreição
for enfocada, apesar de que ela é muito importante e sem ela nada tem sentido e
não existiria fé, pois é o ápice e a ratificação da Vitória de Cristo na cruz
(1 Co 15.14). Não obstante a ressurreição ser muito importante, a ênfase da
Páscoa não é a ressurreição, mas a morte sacrificial de Cristo como redenção no
lugar daqueles que respondem com as mãos fazias da fé, como dizia o teólogo e
pregador Charles Spurgeon. Nós encontramos o real sentido da Páscoa na cruz, no
sacrifício de Cristo como um cordeiro indefeso e mudo como profetizou o profeta
Isaías: “mas ele foi traspassado pelas
nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos trás a
paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados... Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro
foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele
não abriu a boca.”
(Is 53.5,7). A páscoa significa que Deus escolheu redimir alguns da humanidade através
de um sacrifício universal, eterno e histórico – o sacrifício de Cristo na cruz
sendo concluído pela sua ressurreição. A páscoa é a demonstração da
misericórdia de Deus e da sua graça em providenciar uma eterna salvação ao
homem que tem uma natureza completamente caída, egoísta e uma tendência
prazerosa ao pecado e à transgressão, mesmo sabendo que tal prática traz
destruição, caos existencial e conseqüências espirituais. O apóstolo Pedro
percebeu esse sentido pascal quando escreveu que alguns são resgatados do fútil
procedimento que seus pais lhe legam, porque não são por coisas corruptíveis
como dinheiro que se pode ser resgatado, mas pelo precioso sangue, como de um Cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue
de Cristo (1 Pe 1.18,19).
A resposta em trocar os símbolos verdadeiros da Páscoa
pelos símbolos obtusos de um ovo e de um coelho é pela tendência do homem de
fugir daquilo que o incomoda. Um ovo e um coelho não falam nada, não tipificam
nada, exceto um compromisso às crianças de comprar em forma de chocolate,
ficando melhor para usar comercialmente. Os verdadeiros símbolos da Páscoa
incomodam porque falam de nossa pecaminosidade e que esse pecado é universal,
ou seja, em todas as épocas e em todos lugares ele acontece. Na verdade, os
homens se escondem de Deus e de sua mensagem porque não querem admitir as suas
frustrações éticas, psicológicas, existenciais, sociológicas, científicas
(porque a ciência não explica tudo, como por exemplo, o início de tudo) e
principalmente espirituais, pois o homem quanto mais busca Deus por si mesmo encontra
um abismo de contradição e fracasso.
A Páscoa tem uma mensagem universal porque trata de algo
universal que é o pecado e fala de um Deus Eterno que foi ofendido e deseja que
todos possam usufruir a sua misericórdia através de Cristo na cruz, pois assim
todas essas frustrações são eliminadas porque somente em Cristo pode-se
realizar existencialmente e espiritualmente, pois a sua morte trata de coisas
essenciais como culpa, sentido e amor perfeito. Somente Cristo pode oferecer
solução para a culpa humana dando sentido de vida ao homem, que foi criado à
sua imagem e semelhança, satisfazendo-o com um amor perfeito, porque “Deus
prova o seu próprio amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós
ainda pecadores” (Rm 5.8).
Interessante , muito bom!
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