A responsabilidade de um
estudioso da Palavra de Deus é analisar ou, pelo menos, criar um pensamento
crítico diante de algumas tendências que são vistas como perigosas e sérias.
Creio que tudo que foge de uma interpretação exegética dentro de uma
hermenêutica saudável, traz prejuízos à igreja de Jesus Cristo. Não foi à toa
que por causa de uma simples colocação e interpretação de um verbo do novo
testamento como justificare em latim
trouxesse uma má interpretação à doutrina da justificação pela fé na idade
média, trazendo, com isso, várias heresias como o pelagianismo e outras mais.
A Igreja deve estar fundamentada
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, que foi revelado na Palavra de
Deus. Parece que isso é uma redundância, pois falar que os líderes da Igreja de
Cristo devem fundamentar-se na Palavra de Deus poderia ser algo sem nexo, mas o
que vemos nas cartas pastorais de Paulo a Timóteo e a Tito, é que eles deveriam
atentar para a Palavra de Deus primeiramente (1 Tm 4.12,13; 2 Tm 2.15; 4.1-3;
Tt 2.1). É sinal que a tendência de um pragmatismo teológico e litúrgico era
uma tentação desde aqueles tempos.
A igreja tem uma grande tentação
de optar pelas experiências e deixar de analisar o que a Palavra de Deus diz.
Vejo vários motivos para isso: Primeiro por uma falta de preparação teológica
adequada para analisar ou fazer uma exegese com erudição ou até mesmo com um
estudo minucioso da Palavra de Deus, por isso que Paulo disse a Timóteo 2.15
que manejasse bem a Palavra da Verdade; segundo, porque muitos líderes não têm
tempo de debruçar-se diante de um estudo exaustivo da Palavra de Deus. Alguns
acham que um pastor ideal é aquele que gasta tempo com visitas e atividades
outras na igreja, negligenciando o estudo cauteloso e sistemático das
Escrituras. Embora que sejam importantes, deve-se colocar em primeiro lugar a
preparação e o estudo das Escrituras; terceiro motivo é porque são pressionados
por outros que aderem a ondas e passam a ter como base experiências sem nenhuma
base sólida da Palavra de Deus. Por isso que existem igrejas, onde há curas,
expulsão de demônios, mas mesmo assim há ovelhas morrendo de fome dentro de seu
próprio aprisco; quarto, pela tentação da quantidade em detrimento da qualidade.
Pensam alguns: é melhor ter uma igreja com muitas pessoas mesmo com um método
ou prática questionada pela Palavra que com poucas pessoas com uma base
sólida.
G. K. Chesterton escreveu: “Nosso mal hoje é ter humildade no lugar
errado. A modéstia deixou de atuar sobre o órgão da ambição. A modéstia reside
agora no órgão da convicção; onde nunca deveria estar. O homem deveria duvidar
de si mesmo e ter certeza da verdade. Isso foi completamente invertido”. Vejo
que hoje muitos líderes estão duvidando de algumas verdades teológicas para dar
lugar aos seus pontos de vista, a experiências e a ondas de avivamento.
Hoje em dia não se diz mais:
“vamos ver o que a Bíblia diz”, mas “vamos ver o que aquela igreja grande faz e
usa”, ou “vamos fazer porque dá resultado”. Estas frases infelizmente são um
reflexo de uma igreja decadente, que se não for cuidada, mais tarde será uma
igreja de cristãos nominais, tendo a Bíblia como algo facultativo.
Pensando
nisso, quero trazer uma exegese de 1 Timóteo 3.1-7 e a sua total
incompatibilidade com a ordenação feminina.
Sabemos que Paulo estava
escrevendo uma carta pastoral a seu filho na fé, Timóteo. Portanto, tudo que
iria instruir serviria aos demais líderes das igrejas. Paulo começa mostrando
que a palavra que iria falar era fiel e verdadeira πιστος ὁ λόγος. Portanto,
estava levando Timóteo a levar a sério, talvez porque iria falar de bispos na
sua epístola.
A palavra bispo
É necessário, portanto, que o bispo seja…
A palavra bispo επισκοπος episkopos quer dizer supervisor, alguém que observa, dá
assistência. Foi usada apenas 5 vezes no Novo Testamento; 4 foram usadas para
os líderes homens das igrejas, (At 20.28; Fl 1.1; 1 Tm 3.2; Tt 1.6,7), 1 usada
para Cristo (1 Pe 2.25). Vemos, algumas vezes, que os apóstolos usavam a
palavra similar presbítero πρεσβυτερος presbyteros
como At 20.28. A Septuaginta demonstra que todas as ocorrências dessa palavra eram
para líderes, e esses, homens, sendo usada até para o próprio Deus no NT (1Pe
2.5). Paulo, quando chamou os líderes de Éfeso em Atos 20.17, eram todos homens
pela expressão μετακαλεσατο τους πρεσβυτερους metekalesato tous presbiterous a declinação do artigo é masculina e
não dá espaço a mulheres mesmo que a palavra fosse usada para as duas
declinações. Da mesma forma, na oração δει ουν τον επισκοπον dei oun ton episkopon a palavra
episkopon está com o artigo masculino (1Tm 3.2). Paulo já define para quem está
falando, até porque, não há esta palavra relacionada a mulheres em nenhuma
parte da Bíblia, seja no NT, seja no VT (na Septuaginta, que era muito usada no
tempo de Jesus). A expressão verbal grega é
necessário que seja δει... ειναι dei..
einai demonstra algo que é indispensável e deve ser uma característica
visível, pois os líderes deveriam ser analisados. O verbo ειναι einai de ειμι eimi está no infinitivo presente. Tempo verbal que atesta uma ação
habitual, demonstrando que essas características devem ser constantes e para
todos os tempos, já que se tratava de princípios para a igreja de Jesus. Não se
podem fazer exceções ao episcopado, pois essas características seriam
necessárias e indispensáveis à liderança de Cristo.
As qualificações
Paulo, então, fala que é necessário… Esta expressão serve para
critério daqueles que aspirarem ao episcopado. Isto quer dizer que se alguém
dissesse ter algum chamado, teria que passar pelo crivo dessas qualificações.
Vejamos algumas, pois me dedicarei somente àquelas que digam respeito ao
problema de ordenação de mulheres:
Esposo de uma só mulher
Muitos eruditos admitem que essa
expressão é difícil. O problema implica se Paulo está defendendo que o bispo
seja casado ou se está evidenciando o sexo. A palavra grega ανηρ anër quer
dizer tanto varão como esposo. Εm todo caso, o sexo fica já definido, mas mesmo
assim, há uma dúvida se Paulo queria enfatizar o gênero ou ao casamento
monogâmico. A expressão μιας γυναικας ανδρα mias
gunaikas andra é usada por Paulo, pelo menos três vezes: quando fala outra
vez a Diáconos (1 Tm 3.12); quando escreve a Tito (1.6) e quando falava aos
bispos nessa passagem. Portanto, essa expressão revelava uma característica
importante àqueles que queriam o episcopado e ao diaconato. É interessante que
Paulo usou a mesma expressão a diáconos. Se defendemos que o diaconato feminino
foi liberado por Paulo (1 Tm 3.11), (creio nisso), então, essa expressão se
torna clara como uma admoestação à monogamia que não era um costume entre os
gentios. Porém, creio que a expressão grega μιας γυναικας ανδρα diz muito mais
que uma admoestação à monogamia, pois havia presbíteros solteiros ou viúvos
como o caso de Paulo. No entanto, é perfeitamente legítimo e exegético afirmar,
pelo genitivo qualitativo μιας γυναικας mias
gynaikas, que o bispo não fosse um homem conquistador ou um defraudador de
mulheres. De qualquer forma, Paulo não deixa de tratar de gênero, pois ele fala
de homens com mente liberal em relação ao casamento, pois o contexto da época
permitia os homens a terem várias mulheres e não o contrario. Em todo caso,
podemos aceitar esses dois princípios: seja que tenha uma só esposa, como
também alguém que não seja aproveitador, tentado seduzir mulheres autenticando
o assunto do gênero.
Pode-se perceber que Paulo mudou
os verbos de (é necessário ser)
para apenas um imperativo do verbo ειμι eimi
– sejam quando falava a diáconos (1Tm
3.12). Paulo falou os verbos δει... ειναι dei...
einai… tanto a Timóteo como a Tito para as escolhas de presbíteros e, nessa
escolha, Paulo não abriu espaço a mulheres como abriu ao diaconato quando
afirma (1Tm 3.11) γυναικας ὡσαυτως “da mesma sorte, quanto às mulheres...”. No
caso dos bispos, Paulo jamais escreveu dessa forma. Mesmo assim, há uma
passagem que possivelmente Paulo fala do diaconato de uma mulher em Romanos
16.1. A expressão grega não é um verbo como as traduções ditam, mas um
substantivo sendo diaconisa ou serva da igreja. Porém quando se trata de
presbíteros ou bispos não há referências a mulheres. Portanto, Paulo quando
falou do diaconato usou um verbo ser ειμι eimi
no imperativo, incluindo mulheres
também (v.11), mas, com respeito ao episcopado ele usou a forma verbal δει...
ειναι dei… einai que significa uma
regra sem exceção e sem nenhuma referência a mulheres como fez com os diaconos.
No caso dos diáconos, ele fala na
parte que destaca dos homens, separando totalmente das qualificações femininas
ao diaconato, deixando mais enfático que ele tinha a intenção de falar somente
de homens em 1Tm 3.1-7.
Apto para ensinar
Essa expressão é uma grande dificuldade
àqueles que advogam a ordenação de mulheres. O adjetivo torna a discussão mais
complicada para aqueles que têm a Bíblia como regra de fé e conduta. Como
Paulo, na mesma epístola, admoestou peremptoriamente que não permitia que
mulher ensinasse, nem que usasse autoridade sobre o homem (1 Tm 2.12) (A
expressão grega diz respeito a um ensino com uma autoridade de homem como diz a
expressão exercer autoridade de homem) e incluiria as mulheres ao ensino autorizado
logo depois? Na verdade, Paulo estava refutando uma espécie de heresia
feminista na igreja de Éfeso, levando à confusão de papeis entre os homens e as
mulheres. Não podemos dizer que foi por causa do contexto da época, pois ele se
baseou na criação, firmando-se na criação do homem como primeiro formado, sendo
logo depois a mulher (1 Tm 2.13,14). É bem verdade que Paulo não estava
trazendo uma proibição absoluta de ensino à mulher, mas um ensino com
autoridade como se fosse um homem, ou seja, na posição de um presbítero, pois
sabemos que ele, falando a Tito, disse que as mulheres mais maduras fossem
mestras do bem e instruíssem às mais novas a serem boas donas de casa (Tt
2.3,4). Também, vemos Priscila junto com Áxila explicando o Caminho de Deus a
Apolo (At 18.26); mas, mesmo assim, Tanto Paulo como Lucas não usaram o verbo διδασκω
didaskö, mas os verbos instruir ao autocontrole σωφρονιζω söphronizö e explicar, expor εκτιθημι ektithëmi. Isto quer dizer que esse
ensino é instrutivo, supervisionado e administrado por um επισκοπος episkopos. Então, Como Paulo, que havia
acabado de falar que não permitia uma mulher exercer autoridade de homem, agora
se referiria a mulheres para ensinar na posição de liderança? Seria não somente
uma contradição, mas uma insensatez e contradição aberta de seus ensinos para
qualquer que sejam as interpretações da passagem.
E que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob a
disciplina, com todo respeito
Esta exigência de Paulo deveria
fechar a questão, se não, vejamos: o verbo grego para governar é προιστημι proistëmi usado sete vezes no NT para lideranças da igreja. Dessas
sete, três passagens com particípio são usadas com o verbo no masculino como
uma expressão adjetiva e qualitativa (1 Tm 5.17; Rm 12.8; 1 Ts 5.12) e as
demais, pelo contexto dá para entender que é a homens. Isso se completa se
entendermos que Paulo exige do Bispo e presbítero que governe bem a sua casa.
Ele precisa Ter essa qualificação. Diante disso, há um sério problema à
ordenação de mulheres, pois como adequar essa exigência que Paulo falou que é
necessário a mulheres? Paulo não deixou espaço para uma condição se não for
homem. Ele disse que é necessário que o bispo governe bem a sua casa. Como
conciliar uma ordenação feminina com esse princípio, já que ele teria que ser
analisado explcitamente, tendo o próprio Paulo ensinado que o homem é o lider
da mulher desde a criação na própria epístola (1Tm 2.12,13)? Àqueles que
aceitam a ordenação feminina, pelo menos, têm que admitir, se forem honestos,
que Paulo está falando somente aos homens.
Pois se alguém não sabe governar bem a sua própria casa como governará
a igreja de Deus?
Esta expressão é um forte
argumento e muito contundente, pois quando ele faz essa pergunta retórica ele
coloca todos aqueles que não governam bem e principalmente os que não têm o
papel de governo de um lar ou casa como desqualificados para o episcopado.
Seria uma falta de consenso dizer o contrário e uma quebra de princípio
hermenêutico. Paulo usa uma expressão condicional de certeza e fato para usar
uma pergunta retórica ει δε... πως... Paulo aqui usa a ajuda da lógica
aristotélica em afirmar algo através de uma pergunta trazendo ao contexto da
discussão: COMO ALGUÉM PODE CUIDAR DA IGREJA DE DEUS SE NÃO GOVERNA A SUA CASA?
Pois se Paulo excluiu aqueles que não governam bem, seria lógico excluir
aqueles que não têm o papel de governar. Mesmo assim se alguém refuta que Paulo
está falando somente aos casados, como explicar a questão da autoridade, pois o
bispo teria que ter autoridade a ponto de saber governar a sua própria casa.
Como se iria observar isso em uma mulher? Realmente qualquer pessoa sensata já
se convenceria que esse texto mão dá espaço à ordenação feminina, pois precisaria
ter essa qualificação sendo demonstrada, mas como fazer isso em uma mulher?
Isto quer dizer que o padrão de cuidado para a igreja é saber cuidar bem de sua
casa, que exclui completamente as mulheres pelo contexto geral das Escrituras.
É necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora
Essa expressão não faria sentido
para esse assunto se não houvesse o pronome pessoal masculino αυτον auton
(ele), sendo usado somente para ênfase. No texto Majoritário esse pronome
aparece, ou seja na maioria dos manuscritos gregos. Isso demonstra mais claro
ainda que a intenção de Paulo ao falar sobre o episcopado era à liderança
masculina da igreja.
Conclusão
Minha intenção não foi de mostrar
uma superioridade sexual, ou seja, dizer que os homens têm mais capacidade ou
que não existam mulheres valorosas, santas e cheias do Espírito; mas de
fazer-nos pensar mais sobre os papéis que Deus nos concedeu ao criar-nos e que
os homens por causa do preconceito, pecado distorceram esse papel que se
completam. Creio que se o objetivo de ambos forem a glória de Deus, então se
alegrarão em cumprir a sua Palavra com zelo e dedicação. Buscar “fazer a
vontade de Deus” fora da sua Palavra ou mesmo em dúvida desta é farisaísmo e
está fora daquilo que Deus colocou como padrão aos seus servos. Entendo a
tentativa das mulheres buscarem uma igualdade social e mostrarem seu valor, mas
igualdade é diferente de papel. Deus nos fez iguais, mas com papeis diferentes,
com características diferentes. Se fôssemos iguais não haveria complemento, mas
por que somos diferentes, podemos dizer que precisamos um dos outros; homem e
mulher se completando em amor na sua função que Deus lhes deu.
É bem verdade que existem
mulheres em campos missionários que abrem igrejas, mas a falta de obreiros não
nos dar base de passar por cima de princípios das Escrituras. Pode-se ter
plenamente um entendimento de mulheres realizarem a ceia e batismo nesses
lugares, mas que seja por falta de obreiros ou debaixo de uma autoridade maior
masculina. Jesus deu ordenança a todos na grande comissão, mas não se pode
excluir todo um contexto de liderança e advertências apostólicas com respeito a
esse assunto, assim como o “fazer discípulos” inclui todo um contexto
escriturístico para saber o que se vai ensinar.
Portanto, as pastoras modernas
devem explicar exegeticamente esse texto, bem como a total falta de evidências
entre os pais da Igreja do primeiro século da ordenação feminina.
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