A grande
incógnita em nossos dias é saber qual é exatamente a missão da Igreja. Isso se
deve a dois fatores. Primeiro, devido à total crise de identidade que o
evangelicalismo sofre em nossos dias em não saber onde está a linha ou o
critério para se dizer que uma igreja é genuinamente cristã ou evangélica.
Segundo, devido ao recrudescimento da chamada Teologia da Prosperidade que tem
desviado a Igreja do verdadeiro significado da sua Missão.
O próprio nome “Missão Integral”
demonstra a tentativa da igreja enfatizar um aspecto da Missão que, para esses,
fora preterida. Ou seja, a Igreja sentiu a necessidade de que o adjetivo
“Integral” fosse acrescentado à palavra “Missão” para que se entendesse que a
ideia de “Missão” estava ainda incompleta. No entanto, as palavras “Missão
Integral” não passam de uma tautologia, pois não existe “Missão” que não seja
“Integral”. Ou se faz a “Missão”, que é Integral, ou não a faz. Portanto, a
palavra Missão deveria ter já em sua semântica o significado de integralidade
sem nenhum acréscimo de adjetivo.
No século XVI, quando a Reforma
Protestante surgiu, os reformadores tinham a missão da igreja de uma forma
clara. A Confissão de Fé de Westminster foi o documento que se pode conhecer
sobre o que os reformadores pensavam na época sobre Missões. Assim está
escrito:
Em seu
amor infinito e perfeito – e tendo provido no pacto da graça, pela mediação e
sacrifício do Senhor Jesus Cristo, um caminho de vida e salvação suficiente e
adaptado a toda raça humana decaída como está – Deus determinou que a todos os
homens esta salvação de graça seja anunciada no Evangelho. (Ref. 1Tm 4.10; Mc
16.15) (Confissão de Fé de Westminster, capítulo XXXV, que trata do Amor de
Deus e das Missões)
A Confissão
demonstra que os reformadores tinham uma mente formada do que seria a Missão da
Igreja, pois foi prescrita em uma confissão. Para eles, a missão se baseava em
levar “um caminho de vida e salvação... a toda raça humana”. Não que eles
estivessem esquecendo os problemas sociais, mas que a salvação de Deus quando
atingisse o homem decaído, amenizaria e traria às consciências a justiça social
e mudanças em todas as áreas políticas.
João Calvino
tinha uma visão semelhante. Ele afirma em suas Institutas:
Nosso
Senhor Jesus Cristo foi feito um como nós, e sofreu a morte para que pudesse
tornar-se um advogado e mediador entre Deus e nós, e abrir um caminho pelo qual
possamos chegar a Deus. Aqueles que não se empenham em trazer seu próximo e
descrente ao caminho da salvação, mostram abertamente que não têm em conta a
honra de Deus, e que tentam diminuir o imenso poder de seu império e
estabelecem limites para que ele não possa governar todo o mundo, de igual modo
obscurecem a virtude e morte do nosso Senhor Jesus Cristo e diminuem a
dignidade dada a ele pelo Pai.[1]
Nota-se que
Calvino tinha a visão de que, pelo Evangelho e conversão, Deus governaria em
todas as áreas, ou seja, “todo o mundo”, como ele escreveu. Para Calvino e os
reformadores, a Missão começava com a salvação de Cristo que incluía uma
postura espiritual de arrependimento diante de Deus. A partir daí, as áreas
seriam influenciadas pelo Evangelho, incluindo os pobres, necessitados, justiça
social, educação, artes, etc. A demonstração prática disso é que as cidades em
que mais desenvolveu o protestantismo no mundo se tornaram as mais
desenvolvidas. Entre elas estão: Suíça, Escócia, Inglaterra, África do Sul e
USA. Além de ter, como fundadores, as melhores universidades do mundo de onde
mais teve prêmio Nobel. Dentre elas, estão Havard, Yale, Princeton,
Universidade Livre de Amsterdam, Oxford e Cambridge. Todas elas foram fundadas
ou sofreram forte influência de puritanos. Os reformadores e puritanos tinham
uma visão holística, entendendo que a salvação alcança o homem no todo na
sociedade. Eles não falavam e enfatizavam a ação social e política porque
entendiam que já estava inserida na Missão.
Isso demonstra que a igreja e os
reformados da época tinham a ideia de Missões como um todo monolítico começando
com a salvação em Cristo Jesus atingindo toda a sociedade como Jesus ensinou
sobre o sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16).
O PERIGO
DA POLARIZAÇÃO NA DICOTOMIA ENTRE O PROFANO E O SAGRADO
Toda
polarização traz perigos e conseqüências. Mesmo que seja em nome de uma causa
nobre e verdadeira, a polarização de um seguimento ou de uma ideologia pode
levar a conseqüências gravíssimas.
Houve várias
tendências que levaram à polarização da Missão da igreja. Uma delas é a
dicotomia que a igreja fez entre o sagrado e o profano (mundano). O conceito de
sagrado para a igreja era somente o que tivesse conotação de protestantismo,
mesmo que não tivesse aparente base bíblica. Essas igrejas conceituaram “mundanismo”
como aquelas tendências que estivessem fora do escopo protestante e, por isso,
eram, por si mesmo, pecado e erro. Jogar futebol; participar de teatro, de
programas de TV; músicas populares; ir a cinemas, a exposições, ou a outros
lugares por muito tempo foram pecado e mundanismo. Essa influência veio de
grupos protestantes incautos e que não tinham base, nem fundamentos teológicos
ou roformados. Com isso, a igreja achava que cumprir a Missão seria apenas
pregar o Evangelho, se possível, com roupa apropriada que os Norte-americanos
trouxeram como palitós, gravatas ou outros acessórios convencionados por
líderes de igrejas, não importando como a sociedade local estaria. A política,
as artes, o esporte ficaram por conta da sociedade “profana e mundana” e
aqueles que fossem crentes não deveriam ousar entrar nesses âmbitos. A Missão
tinha apenas uma conotação polarizada de pregação e aceitação do evangelho sem
levar em conta a influência na sociedade.
Se a política,
as artes e as universidades que influenciam toda uma sociedade estavam sem a
luz e o sal, como esperar que essa sociedade pudesse influenciar e tratar dos
mais pobres, viciados ou daqueles que estão à margem da sociedade? Por isso, a
Igreja teve a tendência de polarizar achando que a Missão incluía apenas a
pregação sem nenhum compromisso em influenciar a sociedade que lhes cercava.
Hoje, essa
polarização tem outra nomenclatura chamada de “Gospel”. Tudo que for “Gospel” é
licito, mesmo que seja uma boate, fotos sensuais, quaisquer que sejam a
prática, sendo “Gospel” é espiritual. Com isso, os protestantes passam a fazer
uma dicotomia como no passado, só que agora vem com uma outra nomenclatura. No
passado, era “coisas do mundo”; hoje, “coisas que não são ‘Gospel’”. Por causa
disso, deixam de influenciar na sociedade em várias áreas trazendo princípios
de Deus ou entendendo que sociedade precisa de luz que são os princípios de
Deus em todas as áreas em um país que se faz Missão. Portanto, a ideia de
Missões se torna mais forte e desafiadora.
O PERIGO DE ELIMINAR A ESPIRITUALIDADE DA MISSÃO
Dos perigos que
rondam a Missão, esse é o pior, pois torna-a completamente uma caricatura. O
perigo é exatamente de eliminar a espiritualidade da Missão, tornando
simplesmente uma causa social. Essa vertente começou com Teólogos liberais que
não criam em milagres e baseavam-se, para interpretar o VT, na teoria das
fontes. Isso implicava dizer que a doutrina da queda, da criação foram
colocadas como mitos e descartáveis. Por causa disso, para alguns, Jesus Cristo
veio apenas trazer um exemplo de como buscar os pobres e, por isso, essa era a
salvação que os libertava. A Igreja Católica foi fortemente influenciada por
essas idéias chamando essa teologia de Teologia da Libertação. Esse termo foi
colocado pelo padre peruano Gustavo Gutiérres. No Brasil, seu principal
representante foi o padre Leonardo Boff que escreveu vários livros demonstrando
essa ideologia.
Quando se tira
a espiritualidade da Missão, canalizando-a somente para a libertação
simplesmente sociológica, elimina-se as bases dela, pois a causa do caos social
e político é exatamente o afastamento do homem de Deus. Além disso, tira-se a
possibilidade das bases éticas para qualquer ação, já que a salvação de Deus
inclui a restauração não somente dos corpos, mas de toda a natureza.
Outro aspecto
dessa visão é que o Evangelho se reduz apenas a pessoas e lugares pobres, pois
ele seria totalmente desnecessário a lugares que quase não existe pobreza.
Nesse caso, o Evangelho se tornaria apenas circunstancional e não universal e
necessário. O problema do homem é o seu coração, pois é dele que procedem
mortes, cobiça, corrupção e toda sorte de coisas ruins para a sociedade (Mc
7.20-23). A razão maior da Missão não é mudar a sociedade começando pela
conseqüência, mas buscar, primeiramente, a raiz do problema, pois o que veio
primeiro foi o pecado Adâmico. Depois, veio a maldição como conseqüência
espiritual e social. Precisa-se pensar que se deve tratar da maldição por causa
do pecado que é solucionada em Cristo, buscando concomitantemente ser uma
influência na sociedade sofrida por essa conseqüência.
Portanto, essa
polarização é terrivelmente prejudicial ao escopo bíblico da Missão.
A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E MISSÃO
Um dos aspectos
que mais influenciou para um outro extremo foi a chamada Teologia da
Prosperidade. Segundo essa Teologia, Deus em Cristo nos salva do pecado, da
miséria, da pobreza, das doenças e de qualquer problema que foge de nosso
domínio. Essa teologia começou nos USA e influenciou o mundo com seus versos
tirados do contexto e o seu forte apelo ao prazer egocêntrico dos seus
ouvintes.
A Teologia da
Prosperidade levou a Igreja a preocupar-se somente com o ter e não com o ser e
o servir. Os pobres, mal sucedidos, moradores de favelas são frutos de maldição
que têm que livra-se dela “aceitando a Jesus como Senhor e Salvador” e abrindo
mão de seus bens em ofertas a igrejas dessa natureza.
Por causa
disso, a Igreja perdeu a ideia de Missão, pois ela estava se preocupando apenas
com os números de membros, e esses, ricos; preocupando-se se os membros ainda
estavam usando bicicletas ou se tinham trocado para carros; ou até se estavam
crescendo financeiramente em alguma área ou trocando de bens. A Missão se
restringia apenas ao espiritual, sendo comprovado pela obtenção de bens, pois
diziam que Jesus levou as dores e a pobreza também.
A conseqüência
disso é a total insensibilidade para com os necessitados, os pobres, e o
julgamento temerário daqueles que não têm ascensão social como alguns. Outra
conseqüência disso é a total insensibilidade para com as exigências da Missão.
Muitas vezes, a Missão cristã exige desprendimento de bens, fama, até da vida,
pois existem lugares com difícil penetração do Evangelho. A Teologia da
Prosperidade anula essa sensibilidade de renúncia, desprendimento e entrega
pelo outro por amor a Cristo.
Na verdade, a
Missão nessas igrejas é somente local, com apelos materialistas de
prosperidade. Por causa disso, outras tendências vieram para enfatizar a ação
social como resposta a essa Teologia indo para um outro extremo. No entanto,
quando se enfatiza mais a ação social deixando de lado a raiz de toda
problemática social, entra-se em outro extremo, pois a razão dos problemas
sociais é por que o homem se afastou de Deus e, por isso, houve conseqüências
graves em todas as dimensões sociais.
Portanto, a
Missão deve começar na salvação a fim de que influencie todas as áreas,
buscando mudar a situação sócio-cultural que está deitada nas mãos do diabo,
pois “o mundo jaz no maligno” (1Jo 5.19).
A BASE BÍBLICA PARA QUE A VISÃO DA MISSÃO SEJA
INTEGRAL
1. Deus
fala na Lei de Moisés sobre o cuidado com os pobres
No VT, várias passagens demonstram
que a salvação de Deus incluía todas as áreas sócias. Deus não estava
interessado em uma religião insólita e cíclica, mas em uma religião que
afetasse todas as áreas.
Êxodo 23:10-11 10
Seis anos semearás a tua terra e recolherás os seus frutos; 11 porém, no sétimo ano, a
deixarás descansar e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o
que comer, e do sobejo comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e
com o teu olival.
Deus
ordenou que o povo pensasse nos pobres e que deixassem no sétimo ano a terra
sem cultivá-la para que os pobres pudessem colher e comer. Da mesma forma ele
adverte ainda:
Deuteronômio
15:11-14 11 Pois nunca
deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: livremente, abrirás a
mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na tua terra. 12 Quando um de teus irmãos,
hebreu ou hebréia, te for vendido, seis anos servir-te-á, mas, no sétimo, o
despedirás forro. 13 E,
quando de ti o despedires forro, não o deixarás ir vazio. 14 Liberalmente, lhe
fornecerás do teu rebanho, da tua eira e do teu lagar; daquilo com que o
SENHOR, teu Deus, te houver abençoado, lhe darás.
Nesse
texto, Deus deixa claro que os pobres sempre estarão na terra e que o povo, por
causa disso, teria que abrir a mão para o necessitado e para o pobre na terra. Deus demonstra que a religião deveria
vir de uma profunda preocupação com as ações sociais. Quando se fala no pobre,
deve-se entender de uma forma metonímica que quer dizer toda conjuntura social
que os pode beneficiar como uma boa política, projetos sociais, envolvimentos
sociais e uma postura justa na sociedade.
2. Deus
adverte nos Salmos e nos profetas sobre as injustiças sociais e sobre o cuidado
com as viúvas
Salmos 10:12-18 12 Levanta-te, SENHOR! Ó
Deus, ergue a mão! Não te esqueças dos pobres. 13 Por que razão despreza o ímpio a Deus, dizendo
no seu íntimo que Deus não se importa?
14 Tu, porém, o tens visto, porque atentas aos trabalhos e à
dor, para que os possas tomar em tuas mãos. A ti se entrega o desamparado; tu
tens sido o defensor do órfão. 15
Quebranta o braço do perverso e do malvado; esquadrinha-lhes a maldade, até
nada mais achares. 16 O
SENHOR é rei eterno: da sua terra somem-se as nações. 17 Tens ouvido, SENHOR, o desejo dos humildes; tu
lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás, 18 para fazeres justiça ao órfão e ao oprimido, a
fim de que o homem, que é da terra, já não infunda terror.
Salmos 82:1-4 Salmo de Asafe. Deus assiste na
congregação divina; no meio dos deuses, estabelece o seu julgamento. 2 Até quando julgareis
injustamente e tomareis partido pela causa dos ímpios? 3 Fazei justiça ao fraco e
ao órfão, procedei retamente para com o aflito e o desamparado. 4 Socorrei o fraco e o
necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.
Tanto o Salmos
10 como o 82 demonstram que Deus levou o seu povo a preocupar-se com a justiça
social, com os pobres, com os órfãos e com os fracos. No Sl 10 Deus repreende
aqueles que falavam que Ele não se importava com os pobres. Os salmistas
demonstram, então, que Deus levava seu povo a ter uma visão social abrangente.
Isaías 10:1-2 Ai dos que decretam leis injustas, dos
que escrevem leis de opressão, 2
para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu
povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!
Nesse texto,
Deus adverte através do profeta Isaías que povo levasse em conta a justiça
social e o cuidado de oprimir os pobres, viúvas e órfãos. Da mesma forma, o
profeta Jeremias afirma:
Jeremias 5:27-29 27 Como a gaiola cheia de
pássaros, são as suas casas cheias de fraude; por isso, se tornaram poderosos e
enriqueceram. 28
Engordam, tornam-se nédios e ultrapassam até os feitos dos malignos; não
defendem a causa, a causa dos órfãos, para que prospere; nem julgam o direito
dos necessitados. 29
Não castigaria eu estas coisas? -- diz o SENHOR; não me vingaria eu de nação
como esta?
Nesse texto do
profeta Jeremias, Deus repreende o seu povo por causa das fraudes, por não
defenderem a causa dos órfãos e nem a dos necessitados. Isso demonstra que a
adoração inclui uma visão global na sociedade, influenciando e buscando a
justiça social. Isso demonstra que quando se pensa em Missões, deve-se pensar
em justiça social, influência em todas as áreas e a preocupação com os mais
necessitados sem deixar de começar pela raiz do problema que é a separação do
homem para com o seu Criador.
Por isso, Deus
sempre falava através dos profetas que eles deveriam levar em conta a injustiça
como se pode ver no profeta Oseias:
Oseias 6:7-8 7 Mas eles transgrediram a
aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim. 8 Gileade é a cidade dos que
praticam a injustiça, manchada de sangue.
Nesse texto,
Deus adverte seu povo que eles eram como a cidade daqueles que praticam a
injustiça. Deus sempre tem uma visão do todo social, pois a injustiça incluía
as manifestações na sociedade que o povo não estava atentando nem influenciando
para tal. Por isso, Deus fala do seu juízo através do profeta Amos:
Amós 5:11-12 11 Portanto, visto que pisais
o pobre e dele exigis tributo de trigo, não habitareis nas casas de pedras lavradas
que tendes edificado; nem bebereis do vinho das vides desejáveis que tendes
plantado. 12 Porque sei
serem muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o
justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na porta.
Nesse texto, Deus adverte que a causa de
seu juízo é exatamente por que o povo desprezava os pobres e afligiam o justo,
como também por causa do suborno. Por isso, Deus adverte ao povo por causa da
sua total insensibilidade dos problemas sociais.
3. A visão
da Missão no Novo Testamento
Jesus ordena os
seus discípulos na sua ordenança missiológica que eles ensinassem a guardar o
que ele tinha ensinado:
Mateus 28:19, 20 19 Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; 20
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou
convosco todos os dias até à consumação do século.
Jesus ordena
seus discípulos a fazer discípulos dele e que, como conseqüência disso, eles
deveriam ensinar a guardar todas as coisas que ele tinha ordenado.
Os apóstolos
eram conscientes dos ensinamentos do Mestre Jesus e Senhor do Evangelho. As
pregações de Jesus e as Parábolas demonstravam a preocupação com os pobres e
necessitados. Por exemplo, no Sermão do Monte e em seus outros ensinos, Jesus
declara:
Mateus 5:42 42 Dá a quem te pede e não
voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.
Lucas 12:33 33 Vendei os vossos bens e
dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível
nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome,
Nesses trechos,
Jesus ordena a dar esmola, dividir vendendo o que tem. Jesus estava ensinando
que o Evangelho incluía uma profunda preocupação com os pobres e a sua justiça
(Mt 5.6; 6.33). Portanto, Jesus ensina que a Missão tem que ter uma visão
completa com a justiça social. O amor ao próximo incluía uma preocupação com os
excluídos da época, incluindo samaritanos e publicanos. Por isso, ele ensinou
na Parábola do Bom Samaritano que o próximo daquele judeu que estava à morte e
doente era exatamente um samaritano que eles tanto discriminavam (Lc 10.29-37).
Jesus demonstra que a religião sem uma praticidade em amor era apenas uma
fachada como o levita e o sacerdote que passaram de largo.
Tiago ampliou
essa visão do Senhor Jesus quando escreveu:
Tiago 1:27 27 A religião pura e sem
mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas
suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.
Tiago ensina à
igreja, composta pela maioria de judeus, que uma fé que não é acompanhada das
obras é morta. Depois, ele dá vários exemplos, como deixar de tratar com
acepção as pessoas (Tg 2.1-4), o uso adequado da língua (3.1-12), o cuidado de
contendas por causa da inveja (Tg 4.1,2) e a visita aos órfãos e às viúvas nas
suas tribulações. Tiago demonstra bem claro que a vida cristã precisa ter a
visão dos necessitados como resultado da fé cristã. Ele afirma ainda:
Tiago 2:15-17 15 Se um irmão ou uma irmã
estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, 16 e qualquer dentre vós
lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o
necessário para o corpo, qual é o proveito disso? 17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si
só está morta.
Portanto, se a
fé cristã para Jesus e para os apóstolos incluía a ação social, fica claro que
a Missão tem que ter essa visão, pois levaremos é o que ele e os apóstolos
ensinaram. Não precisa enfatizar nada a não ser cumprir a Missão de uma forma
bíblica.
CONCLUSÃO:
O Evangelho é
um só. Fora de qualquer configuração correta do Evangelho, tem-se outro e não o
que Jesus ensinou (Gl 1.8,9). Ou se prega o Evangelho, e este completo, ou não
é o Evangelho. Da mesma forma a Missão. Ou se tem a Missão, e essa completa
levando em conta o todo social, ou tem-se apenas uma caricatura de Missão, ou
seja, não é Missão.
Não se precisa
de mais adjetivos ou mais designações à palavra Missões, mas, sim, de fazer o
que a Escritura ensina: uma visão global, pregando um Evangelho global tentando
alcançar o homem de uma forma global.
[1]
FORBE, J. The Mystery Godlines and Other Sermons.
Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publish House, 1950, p.199.
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