A história tem demonstrado que toda heresia
provém de uma distorção de algo correto ou perfeitamente aceitável na vida
cristã. Às vezes, as intenções são perfeitas, começa-se com base nas Escrituras,
mas por falta de um estudo mais aprofundado delas, a Igreja entra em uma
distorção que pode ser prejudicial à sua vida. Por isso, a igreja precisa de pastores, mestres e doutores cujos dons foram dados por Jesus (Ef 4.7; 11).
Nesses últimos anos, tem-se falado muito em
Missão Integral e o abandono da Igreja em influenciar varias áreas na
sociedade. Devido a essa ênfase de congressos e livros escritos sobre o tema,
muitos têm a tendência de associar Missão Integral com “idéias de esquerda”,
“marxismo evangélico”, “Teologia da libertação evangélica”. Talvez, seja por
causa de algumas interpretações que beiram às interpretações desses grupos e
ideologias supra citados.
A Missão Integral, apesar de aparentar ser uma
ideologia nova e recheada de marxismo ou liberalismo teológico, ela demonstra
ser completamente bíblica e que suas reivindicações teológicas demonstram que
ela, por essência, precisa ser integral, pois caso contrário, não se tem Missão
da igreja, mas apenas uma caricatura do que chamam de Missão, pois é incompleta
[veja o texto que escrevi sobre isso].
A Convenção Batista
Nacional fez a sua “1a Consulta Nacional de Missão integral – daTeologia à prática”. Foram dias de muita reflexão, confrontos e de muita
comunhão. Cada preletor demonstrava muita coerência entre a sua pregação e a
sua prática. Na verdade, eu me senti como uma criancinha diante de tantos
gigantes anônimos da CBN; pastores que se podia perceber Cristo em suas vidas,
que viviam Cristo e que estão cumprindo a Missão da Igreja na plena expressão
do seu significado.
No entanto, precisa-se
pensar que a Missão da Igreja não se baseia somente em projetos Eclesiásticos
ou paraeclesiásticos, mas na vivência da vida na sociedade influenciando em
todas as áreas, já que a Missão foi dada à Igreja na sua individualidade. Seja na
política, na universidade, na família, ou em qualquer área, a mensagem do
Evangelho deve vir acompanhada de prática.
A 1a
Consulta da CBN foi muito feliz em colocar como tema “da Teologia à prática”. É
importante que a nossa prax seja baseada na nossa doxa. Ou seja, precisamos ter
ortopraxia com base na nossa ortodoxia. A Teologia precisa ser o alicerce onde
construímos a nossa prax. Por isso, precisamos analisar com coerência as
Escrituras para que não caiamos nos erros dos liberais e católicos da Teologia
da Libertação que fazem, de fato, porém, sem significado nenhum, pois essas
obras se tornam um fim em si mesmo, transformando-se todo esforço em fumaça.
Um dos grandes perigos
à visão da Missão Integral é a supervalorização dos pobres. Os que defendem
essa ideia usam, principalmente, textos dos Evangelhos onde Jesus ensina e fala
em advertência aos ricos ou ensinamentos aos pobres.
Pretendo analisar
exegeticamente 3 textos, que, se não houver uma hermenêutica correta, ter-se-á
a tendência de concluir que Jesus deu preferência aos pobres e que estes tinham
um certo privilégio diante de Deus, afirmando, com isso, que a salvação de
pessoas ricas e cultas é um grande milagre contingente, mas os pobres não é
tanto um milagre, é algo natural que está na essência deles.
No entanto, o que as
Escrituras afirmam sobre o pobre e o rico é exatamente isso? Será que Jesus deu
preferência mais a pobres do que a ricos? Jesus somente deu “ais” aos ricos?
Pretendo responder analisando exegeticamente 3 textos que foram citados na
Consulta e analisá-lo de uma forma mais exegética.
1.
Análise de Lucas 6.24,25
Lucas 6:24-25 24 Mas ai de vós, os ricos!
Porque tendes a vossa consolação. 25
Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os
que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar.
Uma regra Básica de
Hermenêutica é analisar cada texto e cada sentença segundo o seu contexto
imediato, do livro, de toda a Bíblia, e, muitas vezes, o contexto histórico.
Para que se entenda a advertência contundente de Jesus aos ricos, precisa-se
entender o contexto que os judeus entendiam essa expressão.
Havia em Israel uma
classe social que os judeus chamavam de Am-ha-arez.
Essa classe era constituída de pessoas bem pobres e a maioria habitava na
região da Galileia, incluindo Cafarnaum, Corazim e Betsaida. A palavra
Am-ha-arez quer dizer “o povo da terra”, mas depois de muito tempo significava
uma grande variedade de grupos misturados na Palestina. Eram grupos e etnias
que passaram a habitar na Palestina no Período do exílio da Babilônia. Esses
povos se misturaram com os camponeses pobres. Dentre esses estavam samaritanos,
arameus, filisteus e até mesopotâmicos. Os judeus, portanto, tinham grande
desprezo por essas pessoas, principalmente por samaritanos.
Por causa disso, os
judeus de outros lugares tinham desprezo por essas regiões e por essas pessoas.
Havia no Talmude uma expressão do rabino Hillel que dizia: “não têm consciência
e podem ser tudo, menos humanos”. Outro rabino chamado Jonathan “esperava que
cada um desses miseráveis fossem cortados em dois como um peixe”. Ainda
afirmou: “um judeu não deve casar-se com a filha de um Am-ha-erez, pois o livro
sagrado de Deuteronômio dizia no capítulo vinte e sete: “maldito aquele que se
ajuntar com animal”. [Para ver melhor sobre isso, DANIEL-ROPS, Henri. A vida diária nos tempos de Jesus. São
Paulo: Vida Nova, 1988, p. 102.]
Para agravar mais a
situação, havia uma má compreensão dos judeus de Dt 28.15-17
Deuteronômio 28:15-17 15 Será, porém, que, se não
deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus
mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas
maldições sobre ti e te alcançarão:
16 Maldito serás tu na cidade e maldito serás no campo. 17 Maldito o teu cesto e a
tua amassadeira.
Para um judeu, alguém
era pobre por que as maldições de Dt 28 estavam sobre essa pessoa e os ricos
eram considerados abençoados, pois as bênçãos de Dt 28 estavam sobre eles.
Deuteronômio 28:3-6 3 Bendito serás tu na cidade
e bendito serás no campo. 4
Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus
animais, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. 5 Bendito o teu cesto e a
tua amassadeira. 6 Bendito
serás ao entrares e bendito, ao saíres.
No entanto, eles
entenderam errado o texto, pois o texto queria demonstrar que essas bênçãos
eram inatingíveis sem a graça de Deus, pois havia um mandamento que comprometia
todos os demais:
Deuteronômio 28:58-59 58 Se não tiveres cuidado de
guardar todas as palavras desta lei, escritas neste livro, para temeres este
nome glorioso e terrível, o SENHOR, teu Deus, 59 então, o SENHOR fará terríveis as tuas pragas
e as pragas de tua descendência, grandes e duradouras pragas, e enfermidades
graves e duradouras;
Esse mandamento
demonstrava que uma simples transgressão trazia todas as maldições sobre eles e
que somente a expiação, Cristo, preparada antes da fundação do mundo poderia
satisfazer a justiça de Deus. Nesse caso, todos estavam debaixo das maldições
da Lei. Tantos ricos como pobres precisavam da graça, pois o texto não ensina
que as riquezas viriam pela obediência, pois todos transgridem a Lei de Deus.
A razão da admiração
dos discípulos quando Jesus afirmou que era impossível um rico entrar no Reino
dos céus se devia exatamente a isso. Eles não entenderam o que Jesus afirmou
que aqueles que poderiam ter a vida eterna, na mentalidade judaica, se
colocavam numa situação de total impossibilidade e que somente Deus poderia
fazer algo.
Mateus 19:24-26 24 E ainda vos digo que é
mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no
reino de Deus. 25
Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo
assim, quem pode ser salvo? 26
Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas
para Deus tudo é possível.
Portanto, os judeus
acreditavam que os pobres eram malditos e dificilmente poderiam ganhar a vida
eterna. Por outro lado, quem fosse rico, já tinha a vida eterna como garantia. Jesus
estava exatamente indo contra essa ideia que o levou a falar vários “ais” a
eles. A expressão rico, aqui, portanto, demonstrava pelo contexto geral alguém
autosuficiente que se achava salvo pelas suas condições e cumpridores da Lei.
Porém, Jesus falou
“ais” para pobres também. Talvez, mais contundentes que os que ele falou aos
ricos:
Mateus 11:20-24 20 Passou, então, Jesus a
increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não
se terem arrependido: 21
Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se
tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam
arrependido com pano de saco e cinza.
22 E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor
para Tiro e Sidom do que para vós outras.
23 Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu?
Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres
que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. 24 Digo-vos, porém, que
menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para
contigo.
As cidades de Corazim,
Betsaida e Cafarnaum eram cidades habitadas pelos Am-ha-erez; pessoas
paupérrimas e totalmente desprezadas na sociedade. No entanto, Jesus increpou
sobre eles “ais” contundentes demonstrando claramente que ele jamais deu
privilégios a pobres. Quando ele falou “ais” aos ricos, ele percebe que a
semântica da palavra tinha a ver com autossuficiência diante dos judeus que se
consideravam abençoados por Deus e com garantia da salvação. Portanto, jamais
se pode interpretar esses “ais” a ricos no sentido de finanças, mas a todos
aqueles que se sentem seguros por seus próprios méritos e não são “pobres de
espíritos” como afirma Mateus no sermão de Jesus (Mt 5.3).
2.
Análise de Lucas 4.18
Lucas 4:18 18 O Espírito do Senhor está
sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para
proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em
liberdade os oprimidos,
Aconteceu algo interessante nessa passagem. Jesus estava lendo o texto
de Is 61.1 em hebraico, pois para a leitura da Lei, usava-se o hebraico com um
interprete em aramaico ao lado. No entanto, Lucas usa a passagem da LXX
(tradução do hebraico para o grego). Isso tem um significado bem interessante. Lucas
entendeu que a passagem traduzida da LXX interpretava muito bem o texto em
hebraico.
Isso quer dizer que os rabinos, escribas da LXX e Lucas reconheceram que
a palavra πτωχος ptöchos – pobre
traduziria muito bem o adjetivo hebraico ענו ‘anav que quer dizer “manso”, “humilde”. Dentro da cosmovisão da
época, os ricos eram autossuficientes de salvação por se acharem dentro
já das bênçãos da Lei mosaica. No entanto, Lucas faz questão de colocar o texto
da LXX para demonstrar que Jesus veio buscar pessoas com uma motivação
contrária do que eles se achavam – quebrantados e mansos.
Da mesma forma com a palavra τυφλοι “cegos”. Não há essa palavra no
texto hebraico, mas os rabinos da LXX e Lucas entenderam que ela queria dizer
muito bem para a época quando substituía a expressão שבוים “cativos” (verbo hebraico
no particípio), pois eram como cegos espirituais.
Mediante isso, o texto não nos dá autorização para interpretá-lo de
forma literal as palavra “pobres” e “cegos”, pois elas vêm substituindo as
palavras “quebrantados” e “cativos”. Todas essas têm profundo significado
espiritual. No próprio texto dá para se notar que o sentido que Jesus quer demonstrar
é espiritual pelas expressões alternadas “libertação aos cativos” e “liberdade
aos oprimidos”. Todas essas expressões demonstram ser no sentido espiritual e não
literal. William Hendriksen, em análise dessa passagem de Lucas, afirma:
"O orador em Isaías estava pensando nos desamparados, naqueles que tinham
consciência dessa condição. Isaías 66.2 fornece um bom comentário: 'o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e
que treme da minha palavra'". [HENDRIKSEN, William. Comentários do Novo Testamento – Lucas Vol. 1. São Paulo: Cultura
Cristã, 2003, p.343.]
Portanto, quando Jesus cita o texto do profeta Isaías, ele quer
demonstrar que ele foi ungido para proclamar aos quebrantados, mansos, que os rabinos da LXX chamavam de pobres. Lucas usou a mesma palavra para falar
sobre os humildes e quebrantados de coração, pois os pobres esperavam somente
na vinda do Messias que viria e restauraria todas as coisas, indo contra a
ideologia dos religiosos e judeus da época.
Se esse texto dissesse conforme alguns interpretam, haveria profunda
contradição quando os evangelistas enfatizam Jesus evangelizando Nicodemos, Zaqueu, o Jovem Rico, o
centurião romano (pois ele tinha escravos). Esses homens eram profundamente ricos
para a época. Enfim, Jesus gastou tempo evangelizando tanto ricos como pobres.
Portanto, qualquer interpretação que privilegie pobres na evangelização e
salvação é digna de que seja revista e que seja abandonada.
3. Análise de Marcos 10.25-27
Mark 10:25-27
25
É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no
reino de Deus. 26 Eles
ficaram sobremodo maravilhados, dizendo entre si: Então, quem pode ser
salvo? 27 Jesus, porém,
fitando neles o olhar, disse: Para os homens é impossível; contudo, não para
Deus, porque para Deus tudo é possível.
Essas palavras estão no contexto do diálogo entre Jesus e um jovem rico
que o abordou perguntando o que faria para herdar a vida eterna. Notemos que a
pergunta deste jovem era apenas retórica, pois era judeu, cumpridor da lei (aos seus olhos) e rico. Para ele, não faltava absolutamente nada.
Jesus, então, começa a desconstruir, primeiramente o conceito que ele
tinha de Deus, depois, de si mesmo e da Lei. Jesus queria demonstrar aos seus
discípulos que o homem mais honesto que possa ser e rico precisava de um milagre
para ser salvo. Jesus jamais está privilegiando os pobres nesse texto, mas
enfatizando diante da cosmovisão errada que tinham acerca dos ricos, que a
salvação é um milagre.
O próprio Jesus também demonstrou profunda dificuldade para com judeus pobres
que o seguiam, pois ele afirmou a esses judeus que tinham fome e que o seguiam
simplesmente por causa da multiplicação dos pães (Jo 6.34):
John 6:42-44 42 E diziam:
Não é este Jesus, o filho de José? Acaso, não lhe conhecemos o pai e a mãe?
Como, pois, agora diz: Desci do céu?
43 Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. 44 Ninguém pode vir a mim se
o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
Notemos que eram judeus da Galileia, pois eles afirmam que eles conheciam
os pais de Jesus. No entanto, Jesus demonstra profunda impossibilidade na
salvação vinda deles mesmos, exceto, se o Pai os trouxesse. João usa um
verbo grego muito forte ἑλκύω / helkuö que
quer dizer “agarrar, puxar”. O Pai precisa trazer na força de sua soberania
para que aqueles que eram pobres fossem salvos. Ou seja, era impossível para
eles, mas completamente possível para Deus. Portanto, todos precisam de um
milagre de Deus para serem salvos.
4. O cristão e os pobres
Precisamos ver os pobres e suas necessidades como um dos aspectos da
obediência do amor ao próximo e não como um fim em si mesmo na Missão da Igreja
de Cristo. Por exemplo, a igreja não pode ver somente a necessidade de pessoas
pobres nas favelas, mas as necessidades de jovens e professores nas
universidades que precisam da luz do Evangelho também, de artistas, políticos e
atletas que precisam de um Evangelho contextualizado e inteligente.
Outra distorção e perigo daqueles que aderem à Missão Integral é achar
que o estudo e a inteligência são incompatíveis no Reino de Deus. O apóstolo
Paulo, dizem, é apenas uma exceção. Será? Novamente, esses que afirmam isso
erram por problemas exatamente nos estudos. A maioria dos escritores do NT era
erudito e com grande conhecimento do VT, hebraico, grego e do contexto da sua
época. Tem-se Lucas, que era médico e um historiador, pois buscou fontes históricas
e escreveu com um grego de alta erudição; tem-se Mateus, um publicano com
conhecimento profundo do VT e do grego; Marcos; João, apesar de ser um
pescador, era um profundo conhecedor do grego, traduzindo termos hebraicos do
seu Evangelho para o grego; tem-se Paulo que dispensa qualquer comentário pela
sua erudição em várias áreas; o autor aos Hebreus, um profundo conhecedor da
Lei de Moisés, do grego e da literatura. Portanto, Deus usou homens com
profundo conhecimento e erudição. Paulo não foi uma exceção.
Alguns usam a passagem que Jesus afirma:
Lucas 10:21 21 Naquela
hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor
do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as
revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
Quem eram os Sábios e instruídos que Jesus estava falando? Claro que
falava dos escribas, fariseus e saduceus que eram instruídos na Lei, mas
desprezavam completamente as palavras de Jesus. Jamais Jesus quis falar do
conhecimento no sentido geral, da reflexão ou da necessidade de mais estudo.
Se o estudo fosse incompatível ao Reino de Deus, seria um absurdo Jesus
dar à Igreja os Mestres. Paulo ensina que o presbítero precisa ser apto para
ensinar (1Tm 3.2). A palavra grega διδακτικος / didaktikos significa habilidade ao ensinar e isso só se obtém com
estudo e inteligência. Portanto, aos que ensinam que a Missão integral abrange
somente os que não são inteligentes e sábios, devem estudar mais.
Os pobres devem ser vistos pela igreja da mesma forma que os
universitários, os artistas, os jogadores, músicos etc. Muitos destes, muitas
vezes, são ricos que precisarão de um evangelho contextualizado e de projetos
que os alcancem. Assim como a Missão é tanto em Jerusalém, Judéia, Samaria até
os confins da Terra, devemos pensar em todas as classes para que sejam
alcançadas pela igreja.
O apóstolo Paulo tinha essa
visão:
Gálatas
2:9-10 9 e, quando conheceram a graça que me foi dada,
Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a
Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e
eles, para a circuncisão; 10
recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer. [grifo meu]
Esse texto demonstra que a evangelização aos pobres não pode ser um fim
em si mesmo ou única na Missão da Igreja. Paulo afirma que ele se esforçou, foi
diligente para lembrar dos pobres. O verbo grego σπουδαζω / spoudazö significa
“ser diligente”, “procurar fazer algo”. Isso significa que se Paulo se esforçou
para fazer é porque ele tinha juntamente outros objetivos que até poderiam
fazê-lo esquecer dos pobres.
Portanto, os pobres em si jamais podem ser a prioridade da igreja, mas,
sim, todos os que precisam da luz de Cristo, sejam pobres, sejam ricos, sejam sábios,
sejam ignorantes como Paulo afirmou:
Romanos 1:14 14 Pois sou
devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes;
Paulo se sentia devedor de todas as pessoas e não somente de um grupo.
Por isso, precisamos incluir todas as pessoas de todas as classes em suas
necessidades. Devemos lembrar que o homem moribundo que o Bom Samaritano ajudou
era um judeu, e se ele vinha de Jerusalém e foi roubado era por que ele tinha
dinheiro (Lc 10.30). Portanto, não estava na classe dos Am-ha-erez, ou dos
pobres.
Portanto, assim como se deve ver o homem no seu todo, precisa-se ver o
homem em todas as suas classes, não preterindo nenhuma, pois o Evangelho é
integral e a sua Missão também.