Nesses últimos anos, algumas igrejas têm dado muita ênfase ao discipulado, principalmente as Igrejas que adotaram a visão G-12 como estratégia ou como Convenção. Essas igrejas ensinam a ter discípulos, de preferência 12, à semelhança de Jesus. Desses 12, deve haver uma multiplicação de discípulos formando o que eles chamam de “gerações”. Esses discípulos passam a dever obediência e honra a ponto de quase todas as decisões deles sejam opinadas ou interferidas pelo discipulador. Daí vêm coisas absurdas como a prova de obediência de seus discípulos obrigando-os a fazer atos que são constrangedores e ensinando-os a darem o que eles chamam de “primícias” (embora que tudo seja voluntário). Essas “primícias” são uma oferta ao discipulador ou o que eles chamam de “Cobertura Espiritual”. Cada líder maior se considera um apóstolo e os menores são chamados de “meu discípulo”, “um dos meus doze” ou simplesmente “pastor”, pois “apóstolo” é somente para os maiores em hierarquia. Como não tem um título superior, há alguns que até inventam como o Pr. René Terra Nova que se auto-intitula de “Paipóstolo”. Esses discípulos agem quase como fanáticos. São ensinados a fazerem alianças entre eles e a terem uma obediência quase incondicional, sendo o discipulador tratado quase como um deus. Há casos que os discípulos lavam os pés do discipulador, não percebendo que, pelo texto bíblico, é o líder que tem que lavar, pois Jesus foi que teve a iniciativa. Esse discipulado, encabeçado pela visão do G-12, parece espiritual e correto, mas completamente fora de coerência bíblica e exegética.
O objetivo desse ensaio é analisar o que o Novo Testamento ensina sobre o discipulado, mostrando alguns perigos e distorções doutrinárias, mesmo correndo o risco de ser discriminado, excluído, desprezado, apagado de listas, perder a amizade e até de ser evitado, pois é assim que são tratados aqueles que falam alguma coisa contra o G-12. Como o objetivo é agradar a Deus em primeiro lugar e a defesa de sua Palavra, não se deve temer a nada, apenas sente-se dó daqueles que se inclinam, em nome da unidade, ao erro. Unidade não implica a falta de diálogo e de defesa contra o erro, pois a Escritura está cheia de advertências à pureza doutrinária (Rm 16.17; Gl 1.7-10; 1 Tm 1.3; 4.16; 6.3-5; 2 Tm 2.17,18; 4.1-3) bem como o próprio Paulo repreendeu a Pedro que era considerado coluna da Igreja sem perder a unidade (Gl 2.9-14). Calar-se diante de distorções doutrinárias é pecado e não unidade. É tornar-se morno diante de perigos à vida da Igreja.
A INTERPRETAÇÃO DE MATEUS 28.19,20
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.
Esse texto é usado como base do discipulado e dessa tendência de discípulos dos 12. O grande problema é a má interpretação do verbo grego matheteuo / fazer discípulo e do seu contexto escriturístico. Esse verbo é usado apenas quatro vezes no NT (Mt 13.52; 27.57; 28.19; At 14.21). No verso de Mt 28.19, o verbo grego matheteusate / fazei discipulos está no imperativo aoristo na voz ativa. Isto quer dizer que Cristo ordenava que eles fizessem discípulos para ELE, Cristo, não uns para os outros. Se fosse assim, o verbo teria que estar na voz média em grego, ou seja, o verbo praticaria uma ação em torno de si mesmo. O que Jesus ordena é que eles levem outros a serem como eles, discípulos de Cristo. Isso é confirmado de várias formas: Primeiro, pelos particípios gregos baptizontes / batizando e didaskontes / ensinando direcionados ao próprio Cristo e diretamente relacionado ao verbo fazei discípulos. O batizar seria em nome da Trindade e deveria levar a pessoa ao compromisso com Deus e conseqüentemente com Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade. O ensinar implica nas coisas que Cristo havia ordenado. Isto quer dizer que a pessoa deve ser ensinanda a ser obediente a Cristo e não ao seu instrutor. Segundo, pelos ditos do próprio Cristo sobre seu discipulado. Jesus fala sobre ser SEUS discípulos e não de outrem (Mt 10.42; Lc 14.26, 27, 33). Ele disse: nisso conhecerão que sois MEUS DISCÍPULOS: se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13.35 grifo meu). Fica claro que Jesus queria que fossem reconhecidos por serem seus discípulos (Jo 15.8). O próprio João Batista levou os seus a seguirem a Cristo, pois ele, como sendo o último profeta do VT, agora os entregaria ao Cordeiro de Deus Que Tira o Pecado do Mundo (Jo 1.37-40).
O testemunho de Lucas em Atos dos Apóstolos demonstra que a Igreja entendeu o mandamento de Cristo, pois a Igreja era conhecida como “hai mathetai / os discípulos” (At 9.1; 9.38; 11.26; 13.52; 14.28; 18.23,27; 19.1,9,30; 20.1,30; 21.4). Todas essas passagens o substantivo acompanha um artigo definido ou o pronome tis, mostrando que seria um discipulado específico. Dois textos são explícitos: em At 9.1 que afirma “os discípulos do Senhor” e o outro em At 11.26 que os discípulos foram chamados de Cristãos. Fica óbvio que seriam discípulos de Cristo. Há apenas um só texto que há uma crítica textual e coloca os discípulos como sendo de Paulo (At 9.25). Segundo o texto Crítico produzido por Westcort e Hort há um pronome possessivo autou que a tradução atualizada traduz “os seus discípulos” relacionando-os a Paulo; porém, mais de 3000 manuscritos gregos não têm esse pronome, que é o texto Majoritário, acompanhando as versões RC, King James, TF. O texto Crítico, geralmente traz variantes absurdas e contraditórias, bem como retira passagens essenciais dos Evangelhos por simples questões de pressupostos baseando-se em poucos e fracos manuscritos. Seria muito estranho que em nenhuma passagem de Atos ou nas Epístolas o substantivo mathetes não acompanhe pronome no genitivo e somente nessa passagem, onde alguns poucos manuscritos registram, acompanhe; sendo que, no verso seguinte do mesmo texto, o mesmo substantivo vem novamente sem o pronome (At 9.26). Portanto, o texto Majoritário é mais coerente nessa passagem ficando como na tradução da Revista Corrigida (RC). Pode-se concluir, então, que fora desse texto, não há uma única base que os apóstolos chamaram outros de discípulos ou que reivindicaram um discipulado exclusivo somente para algumas pessoas.
Ser discípulo era algo bem forte, implicava reter os princípios do discipulador e ele tinha uma certa autoridade espiritual sobre esse discípulo. Se os apóstolos não tiveram discípulos nem ensinaram a tê-los, então é muito perigoso se aventurar com um discipulado sem base formando “seus 12 discípulos”. A Bíblia ensina fazer discípulos de Cristo e não de outras pessoas ou de si mesmo. Quando se ensinam outros, deve-se levar a pessoa a ser obediente aos ensinamentos do Cristo Vivo e não a uma submissão própria fazendo-a temer até uma crítica ou provando se de fato é um “discípulo” obediente.
Paulo, algumas vezes, escreveu aos seus leitores que fossem seus imitadores (1 Co 4.16; 11.1; Fp 3.17; 1Ts 1.6; 2.14), mas essas advertências nunca eram para um grupo somente, nem Paulo os estava levando a serem um dos 12, 13, 150 discípulos dele, mas para toda a Igreja. Esses versos ensinam que precisamos ser referenciais também de Cristo, pois Paulo afirma em (1 Co 11.1) “assim como sou de Cristo”. Não somente os Mestres, mas todos, pois as epístolas foram dadas à Igreja no geral e pelo contexto não exclui ninguém para ser um paradigma, já que Jesus afirmou que o “conhecerão que são meus discípulos” a todos aqueles que o servem em espírito e em verdade.
Apesar de que a palavra discipulos em latim queira dizer estudante, aprendiz; mas a palavra mathetes em grego era mais que um simples estudante. Essa palavra em grego evocava uma obediência em um compromisso. Por isso que em Mateus 13.52 o verbo matheteuo é usado na voz passiva para indicar compromisso com o Reino de Deus e traduzido na Linguagem de Hoje como “se torna discípulo do Reino de Deus”. Evocar discípulos para si é tentar ter uma autoridade espiritual ilícita usurpando o lugar que somente Cristo pode assumir. Jesus advertiu sobre isso dizendo que a ninguém chamasse de Mestre, porque UM SÒ é o vosso Mestre – Jesus e todos vós sois irmãos (Mt 23.8,9). Jesus usou o substantivo kathegetes / mestre como guia, uma palavra em grego similar à palavra hebraica Rabbi que dizer meu Mestre. O Rabi, na época, trazia uma certa autoridade espiritual àqueles que eram subordinados. Ele não usou didaskalos, como Paulo várias vezes falou que deveria ter na Igreja (Ef 4.11). Jesus estava ensinando que ninguém pode ter uma autoridade inquestionável ou uma autoridade que leve alguém a ser guiado como guru, guia espiritual ou “cobertura espiritual”. Isso traz um certo perigo, já que isso é uma das características das seitas, um discipulado fanático de obediência e reverência tal que são levados a suicídios ou outras coisas perigosas. Claro que isso não diz respeito a esse discipulado dos 12, mas é similar podendo a ter prejuízos sérios à fé.
Como conclusão, trar-se-ão sugestões, para que não fique somente na crítica teológica. Aconselha-se àqueles que estão em células ou grupos pequenos que ajam como líderes, respeitando a individualidade de cada um sem cobrar obediência, se não a Cristo pelas Escrituras; todos os membros de igreja devem ter cuidado de todo discipulado que exija de você algo incoerente ou que troque valores exigindo submissão incondicional, embora que não falem assim. Aconselha-se a Convenções que alertem seus pastores do perigo desse discipulado, se forem corajosas, pois foram as grandes igrejas que adotaram esse esquema e fica difícil uma convenção falar algo. Teria que ter coragem para que princípios estejam acima de “Ibope eclesiástico”. Àqueles que chegarem ao alcance desse texto e estejam procurando uma igreja, saiam de todo discipulado que tente ficar no lugar de Cristo. Aceite um discipulado que o seu mestre ensine a ser discípulo de Cristo, porque importa que Cristo cresça e os outros diminuam (Jo 3.30).
Aleluias!!!!Muito edificada pelos esclarescimentos sobre o genuíno discipulado.
ResponderExcluirNossa !!! muito esclarecedor
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