terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

QUEM SUPORTARÁ A SÃ DOUTRINA? UMA ANÁLISE DO TEXTO DE CAIO FÁBIO: “SALVANDO PAULO DO APÓSTOLO PAULO”




3Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos;4 e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.5 Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. (2 Tm 4.3-5)

Há sempre um questionamento que não se quer calar: Por que um pastor de renome, quando cai, muda sua forma de ser, pensar, vestir e de ver o mundo? O que ele defendia com unhas e dentes não defende mais; aquele que era o paradigma dos ministérios passa a ser uma ameaça à fé cristã; aquele que era um ícone da coerência e bom senso passa a ser o do liberalismo e de pensamentos pós-modernos. Penso numa resposta baseada em Paulo que foi inspirado pelo Espírito Santo: Quando um líder de renome cai, ele deseja ter a mesma projeção que antes. Isso está no ser humano: o desejo de ser e projetar-se. De uma hora para a outra isso cai por terra numa queda; então, a projeção desse pastor é frustrada. O que fazer? A única alternativa é partir para projetar-se em outra Cosmovisão; outra forma de ver o mundo e até numa forma de ver a Bíblia diferente, já que na Cosmovisão anterior este não é mais um paradigma e nem mais teria projeção nenhuma.

Paulo estava falando exatamente isso a Timóteo: Haverá momento que os mestres não suportarão à Sã Doutrina, porém estes se juntarão segundo as suas próprias concupiscências. Paulo evidencia essa oração em grego quando usa a conjunção grega allá – porém. Segundo Paulo, que foi inspirado pelo Espírito Santo, estes mestres fazem isso segundo os seus desejos carnais epithumias. Esta palavra grega é usada por Paulo para designar desejos pecaminosos e carnais, concupiscência. Ele demonstra que o motivo do não suportar a Sã Doutrina é o desejo do coração pecaminoso, seja de projeção, sejam de práticas erradas ou qualquer outro motivo que não seja a glória de Deus. Talvez seja isso que esteja acontecendo com Caio Fábio. Um dos ícones do Evangelho e da Igreja Brasileira, que defendia os princípios de Deus em alto e bom som, agora sinto a dor de mostrar alguns perigos à fé cristã desse amado irmão. Lembro-me da primeira vez que li um livro do Rev. Caio Fábio: “Abrindo o jogo sobre o Namoro”. Olhei a sua foto atrás e vi algo diferente em seu olhar como as suas palavras tão precisas e cheias de princípios bíblicos. Caio Fábio tem uma mente privilegiadíssima; um pensador, alguém que mesmo sem ter passado por uma faculdade teológica podia e pode falar a mestres e doutores de todos os assuntos abordados; porém, há muito tempo, Caio Fábio desviou-se das doutrinas fundamentais da fé cristã. Pode-se notar isso em seu próprio site e artigos que manifestam o pensamento de alguém que não tem mais a fé dos apóstolos, porém, pensamentos e pressupostos pós-modernos para com a Palavra de Deus.

O texto “Salvando Paulo do ‘Apóstolo Paulo’”* é, no mínimo, estranho para alguém que crê na Bíblia como a Palavra infalível de Deus e na sua inspiração dada pelo Espírito Santo. Segundo Caio Fábio, Paulo torna suas palavras relativas quando pergunta: Quem é Apolo? E quem é Paulo? (1 Co 3.5). Segundo ainda Caio Fábio, precisa-se interpretar “discernindo a Encarnação da Palavra”. Pois se não acontecer assim, vai haver a “gritante contradição em relação ao espírito do Evangelho de Jesus”. Ele ainda afirma que “Evangelho não é um corpo de doutrinas, mas uma maneira de ver, entender, ouvir e experimentar a vida”. Por isso que ousa dizer que Paulo teve “surtos” e que se nós aceitarmos isso como inspirado, haverá um desastre na fé.

Precisamos admitir que o Evangelho é mais que Paulo e que ele mesmo não é o Evangelho. Foi o próprio Paulo que escreveu que ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema (Gl 1.8). Paulo se incluiu como aquele que não tem o direito de mudar a verdade de Deus. Paulo não escreveu nada vindo dele mesmo, mas buscava interpretar as promessas do VT, sendo inteiramente dirigido e inspirado pelo Espírito Santo. Porém, o próprio Paulo e os outros apóstolos reivindicaram que suas palavras não são menos, nem parecidas; mas a PRÓPRIA PALAVRA DE DEUS. Pode-se ver isso na própria epístola aos Coríntios (1 Co 14.37): Paulo afirma que suas palavras são MANDAMENTOS DO SENHOR – Kuriou eisin entolai. Seria muita pretensão e mentira se não fosse. Poderíamos até desconfiar de sua sanidade mental, caso fosse o contrário. É digno de nota que Paulo não fala somente desse contexto de dons, mas de toda epístola, pois o contexto dos dons é de profunda divisão, principalmente de um grupo na igreja que se chamava de “Espirituais”. O próprio Paulo também declarava que o seu evangelho não era de homens, mas de Cristo (Gl 1.11,12). Ele não considerava um evangelho diferente heteros, mas o mesmo allos Evangelho de Cristo (Gl 1.6,7). Paulo não fazia diferença, pois ele fora designado por Jesus. Ele ainda admitia que Deus o usou para cumprir a sua Palavra e revelar o mistério to mystërion (Cl 1.25-27). Em 1 Ts 2.13 Paulo declara de uma forma indubitável que as suas palavras eram alëtös logon Theou – verdadeiramente Palavra de Deus e ordenou que os irmãos guardassem com zelo tanto as suas palavras como as suas epístolas (2 Ts 2.15), mostrando que era também um corpo de doutrinas (conf. Gl 1.8,9). Paulo mesmo diz que a Igreja está edificada sobre o fundamento dos Apóstolos e profetas sendo Cristo como fundamento (Ef 2.20). O próprio Pedro colocou os escritos de Paulo em pé de igualdade com as demais Escrituras loipas graphas (2 Pe 3.15,16). Os Pais da Igreja também reconheciam a autoridade de Paulo. Clemente de Roma, cuja primeira epístola aos Coríntios comumente é datada cerca de 96 DC, fez amplo uso das Escrituras, apelando para a sua autoridade e chegou a falar de 1 Coríntios reconhecendo a autoridade de Paulo e a quem ele chamou de “Bendito Paulo, o apóstolo” e afirmou ainda: “com verdadeira inspiração ele vos escreveu”. A Epístola a Barnabé também faz várias citações de epístolas de Paulo como autoridade de Palavra de Deus. Policarpo também cita as epístolas de Paulo como Palavra santa e inspirada de Deus.

Outro grande problema que se tem nesse texto de Caio Fábio, que ele afirma que se pode aceitar somente algumas coisas da Escritura pela “interpretação da Encarnação da Palavra”, é o seu total subjetivismo às doutrinas, pois se a interpretação não é objetiva, como saber onde está essa interpretação da Encarnação da Palavra? Portanto, será de acordo com cada interprete e não se tem objetividade nem se poderá dizer isso é certo ou errado. Partindo disso, transforma-se em um silogismo que demonstra profunda contradição, pois ninguém poderá dizer onde é alguma coisa certa na Palavra de Deus. Então, não terá sentido esse texto de Caio Fábio.
Portanto, o amado Rev. Caio Fábio, ou qualquer título que ele queira assumir agora, está muito enganado. Sua teologia está mais parecida com Karl Barth que com o Evangelho de Cristo; mais liberal que ortodoxa, mais teórica que bíblica; mais pós-moderna que espiritual. Realmente sempre terão coisas que não concordaremos com Paulo; mas quando acontecer, nós devemos confessar como pecado, pois é porque transgredimos o mandamento de Deus ou pelo menos temos vontade de transgredir, pois o que Paulo escreveu foi inspirado pelo Espírito Santo. Segundo Caio Fábio, Paulo diria a ele: “É isso aí, meu irmão”. Eu questionaria essa resposta de Paulo. Eu diria, pelos seus escritos, que Paulo falaria no mesmo tom de voz com que falou a Himineu, Alexandre e Fileto, pois naufragaram na fé (1 Tm 1.19,20; 2 Tm 2.17-19).
Quem será o próximo a não suportar a Sã Doutrina? Quem será o próximo a não seguir as doutrinas dos apóstolos e com humildade reconhecer que precisamos estar submissos a Deus e à sua Palavra, pois Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Tm 3.16,17).


Pr. Francisco Mário Lima Magalhães

* www.caiofabio.com/novo/caiofabio/pagina_conteudo.asp?CodigoPagina=0020200005